A
MORTE DO DEMÔNIO:
UMA
REFILMAGEM QUE VALE A PENA
Antônio Pedro de
Souza
Geralmente não gosto de refilmagens. Sempre vou assisti-las,
acabo comparando-as com as versões originais e sempre acho os originais
melhores. Mas toda regra tem uma exceção e, vez ou outra acho a refilmagem pelo
menos igual à versão original. Foi assim com “Psicose” que achei incrível as
duas versões e “A Profecia” que também considero perfeitas tanto a 1ª quanto a
2ª filmagem.
Ontem fui assistir “A Morte do Demônio”, mais uma
refilmagem de uma clássico dos anos 1980. Meu veredito: perfeito! O filme
conseguiu dar um novo ponto de vista do clássico, trazendo novos elementos mas,
sem mudar o rumo da história (como infelizmente aconteceu com “Halloween”, “Sexta-Feira
13” e “A Hora do Pesadelo”.
Nesta nova versão, os cinco jovens vão à uma cabana que
pertence à família de dois deles. Lá, em meio a um cenário de bruxaria,
encontram o “Livro da Morte”. A aparente burrice dos jovens do filme original
continua nesta versão: Já na primeira página do livro vem o aviso: “Não Leia” e
o lesado do personagem simplesmente... lê! Em seguida, vem um “não pronuncie” e
ele... pronuncia, recita, decora, falta pouco gravar as malditas palavras
proibidas em um cd e colocar no som pra tocar mais tarde... conclusão: o
demônio possui a mocinha do filme.
Pouca coisa muda nas cenas de possessão entre as duas
versões. Tirando, claro, os efeitos especiais que evoluíram consideravelmente
nos trinta anos que separam as duas versões e uma violência bem mais explícita
nesta nova filmagem.
Um detalhe importante citado pelo professor de filosofia
Luiz França que até então eu não havia percebido: os olhos do demônio desta
versão são pretos enquanto os da versão anterior eram leitosos.
Tirando os detalhes técnicos que, obviamente, mudam de
produção para produção, “A Morte do Demônio” é um filme que vale a pena se
visto. Sam Raimi (produtor das duas versões) acerta nas cenas sobrenaturais e
sabe dividir o filme em três atos: o primeiro vai da cena inicial até o começo
da possessão, o segundo parte da possessão até a aparente solução, o terceiro
(e mais eletrizante) é o tão esperado confronto final entre Mia e o demônio...
As cenas do rio transbordando e da chuva de sangue são
simplesmente memoráveis. Não há um lugar seguro onde os personagens possam se
esconder. O mal está no encalce de todos. E a saída é sempre a mais difícil e
dolorosa.
Não é um filme para quem tem estômago fraco ou nervos à
flor da pele, embora também não seja “o mais assustador que você vai assistir”
como anuncia o cartaz. Causa sim, certo desconforto em algumas cenas e uns
sustos propositais mas podemos assisti-lo tranquilos numa sexta-feira após a
meia-noite.
Por fim, recomendo assistirem a essa obra e, se possível,
assistam também à obra original. São dois filmes que valem a pena e que nos
fazem perguntar ao fim da sessão: “será que acabou mesmo?” “Será que estamos à
salvo?”
INTERTEXTUALIDADE:
Motosserra é um instrumento de trabalho relativamente
comum em casas de campo, fazendas, etc. Mas passou a ser comum também no
cinema, principalmente após 1974 quando o cineasta Tobe Hopper apresentou ao
mundo “O Massacre da Serra Elétrica”. De lá pra cá, uma leva de filmes trazem
discretamente ou até mesmo descaradamente este “brinquedinho” seja na mão do
assassino ou do mocinho. Sexta-Feira 13, Halloween, Pânico na Floresta e até
Homem-Aranha(!) lançaram mão deste apetrecho. É óbvio que um filme como “A
Morte do Demônio”, que se passa em uma cabana no meio de uma floresta não
poderia ficar de fora. A cena com a motosserra é incrivelmente bem bolada e não
soa artificial. Ela está ali pra ser usada e vai ser usada. Vale a pena
assistir.