terça-feira, 27 de março de 2018

Dá para ser crítico sem ser chato: Uma rápida análise sobre a novela “O Outro Lado do Paraíso”



Jornalista defende história de Walcyr Carrasco


            Desde que estreou em 2017, a atual novela das nove da Globo, “O Outro Lado do Paraíso” tem dividido a opinião de críticos televisivos. Com o público, embora não haja unanimidade, a novela tem tido boa aceitação, prova disso são os expressivos números da audiência.
            “Boa audiência não resume qualidade” – diz constantemente um dos críticos que mais detona a novela de Walcyr Carrasco na internet. Pode ser, mas é um dos indicadores mais importantes, já que é a prova de que o público está assistindo e gostando.
            Um cineasta de quem não me recordo o nome no momento disse certa vez que a opinião do crítico conta, sim, mas entre este e o público, ele ficaria sempre ao lado do público, já que é este último quem paga os ingressos. Na TV não é tão diferente: o papel do crítico é importante, claro, mas é a vontade do público quem conta para o autor e a emissora que produz determinado produto.
            Há vários casos de novelas que não agradavam ao público e foram alteradas, passando a conquistar uma respeitável audiência. Walcyr Carrasco, aliás, sabe muito bem como se virar nestas situações. Em 2001, quando escreveu A Padroeira, fez diversas mudanças na trama que não havia conquistado os fãs – uma ironia, se pararmos para pensar que a novela era sobre um dos maiores símbolos do catolicismo em um país majoritariamente católico. Pois bem, feitas as alterações, a novela, cuja emissora havia pensado em encurtar seu tamanho, acabou sendo estendida, já que a produção de sua sucessora, Coração de Estudante, estava atrasada. A Padroeira pode ter sofrido o desgaste que toda obra televisiva de grande tamanho comumente sofre, mas terminou com um saldo positivo.
            Já que falei de sua sucessora, Coração de Estudante, vale salientar que ela também teve algumas alterações feitas para se adequar ao gosto do público e o processo surtiu efeito.
            Enfim, se alguém tem o poder de alterar o rumo de alguma obra como as novelas, esse alguém é o público, verdadeiro dono do controle remoto.
            Sobre os críticos, vale ressaltar que o papel primordial deles não é, por incrível que possa parecer a alguns, falar mal! Cabe ao crítico “traduzir” a obra para o público, ou seja, identificar a linguagem e a intencionalidade do autor e ajudar o público a compreendê-la. É claro que, neste contexto, o crítico pode deixar passar a sua impressão sobre determinado trabalho e tecer elogios ou falar mal de uma situação ou passagem exibida na obra analisada. O problema é quando o crítico se limita a apenas expor sua opinião, sem levar em consideração as qualidades do trabalho do autor e, em se tratando de O Outro Lado do Paraíso, isso tem acontecido com frequência.
            Alguns críticos têm apontado apenas as falhas da novela, sem levar em consideração os inúmeros méritos dela – o primeiro deles, aliás, foi o fato de manter e até aumentar a audiência do horário.
            Quando um autor de novelas substitui uma trama de sucesso, ele tem a difícil missão de manter o público saudosista da trama anterior ligado na nova história. A Força do Querer havia conseguido trazer um público que havia ficado escasso após as problemáticas Velho Chico e A Lei do Amor. Quando A Força... terminou, O Outro Lado... estreou com o horário em alta e, mesmo tendo percalços já na primeira semana – o 3º capítulo teve que ser remanejado de quarta para quinta-feira pois a Globo estava exibindo uma importante votação na Câmara dos Deputados – conseguiu manter o público interessado nas desventuras de Clara e demais personagens.
            Alguns críticos reclamaram também de que O Outro Lado... não tem causado nas redes sociais o mesmo burburinho de sua antecessora. Esqueceram, porém, que, assim como “boa audiência não é sinônimo de qualidade”, o fato de “causar burburinho na internet” não é sinônimo de audiência e vice-versa. E, principalmente, que uma obra para ser boa não precisa, necessariamente, causar polêmica ou tratar de temas espinhosos.
            A Próxima Vítima, um dos maiores êxitos da década de 1990, era centrada puramente em uma trama policial. A novela trouxe, claro, algumas abordagens sociais, como a questão dos menores abandonados e da homossexualidade de dois personagens, entre outros, mas isso, porém, não passou nem perto do enfoque central que eram os misteriosos assassinatos.
            A atual reprise do “Vale a Pena Ver de Novo”, Celebridade, também trouxe uma miscelânea de assuntos que acabaram desembocando no mais tradicional “Quem Matou?”. A vítima da vez era Lineu Vasconcelos e seu algoz... bem, assistam à reprise! Celebridade também tratou do alcoolismo e outros temas, mas seu enfoque não era esse.
            Assim, vale repetir, uma novela não precisa trazer temas polêmicos para ser boa e lembrada. Vamp, de Antônio Calmon e Uga-Uga, de Carlos Lombardi, não fizeram praticamente nenhum merchandising social e conquistaram seus respectivos públicos na década de 1990 e no começo da década de 2000. Vamp, aliás, tratava de um tema pouco comum na TV brasileira: vampiros! Uga-Uga, embora fosse mais realista, causou polêmica por outros motivos: o excesso de nudez e insinuação sexual em pleno horário das 19h. As duas, contudo, fizeram sucesso simplesmente por seus roteiros.
            A impressão que se tem com alguns críticos é que eles esqueceram de que as novelas tem, assim como o cinema, literatura, teatro ou música, o papel principal de entreter e que o merchandising social, embora seja muito bem-vindo, é um acréscimo dado à trama e não o seu objetivo final.
            Imagine os críticos de hoje comentando, no começo do século XX, o lançamento de Dom Casmurro, de Machado de Assis: “Mas é um absurdo esse livro. Onde já se viu lançar uma dúvida dessas sobre o leitor e não dar mais explicações sobre a idoneidade – ou não – de Capitu?” ou ainda: “E cadê os temas sociais que não estão inseridos neste livro?” E por aí vai...
            Pois é. Alguns críticos estão mais preocupados em achincalhar a obra de Walcyr Carrasco do que tentar aceitar e entender o sucesso da novela. Não é porque A Força do Querer trouxe temas importantes como a transexualidade, que O Outro Lado precisa abordar o mesmo tema. Não é porque Amor à Vida, também de Carrasco, trouxe um relacionamento estável entre dois homens, que lutavam para adotar uma criança, que O Outro Lado... precisa dar o mesmo enfoque ao tema da homossexualidade. Cada história é uma história.
            Aliás, os mesmos críticos que reclamam da falta de elementos de outras tramas em O Outro Lado... reclamam da repetição de ideias de Walcyr Carrasco na atual novela. Ora, reclamar que um autor repita suas ideias entre uma novela e outra chega a ser risível. Cada autor tem um estilo e tal estilo costuma ser reutilizado em diversas obras. O já citado Machado de Assis tinha como marca de seus protagonistas a obsessão: Bentinho era obcecado por Capitu, Brás Cubas era obcecado para ficar famoso, Quincas Borba tornara-se obcecado por sua filosofia de vida e o psiquiatra de O Alienista tornou-se tão obcecado por seu trabalho que, no fim, tornou-se o único interno de seu próprio hospício.
            Em novelas, isso é mais comum ainda: Desde meados da década de 1980, que Manoel Carlos traz uma Helena como protagonista de suas histórias. Como se não bastasse o nome, a atriz Regina Duarte defendeu o título três vezes: História de Amor (1995), Por Amor (1197) e Páginas da Vida (2006). Outra coisa curiosa nas novelas de Maneco são os títulos: História de Amor e Por Amor; Laços de Família e Em Família; Páginas da Vida e Viver a Vida... repetição simples ou estilo do autor?
            Com João Emanuel Carneiro, o estilo se dá pela desconstrução. Em suas novelas, há sempre uma família rica, aparentemente levando uma vida confortável, que se torna alvo de alguém invejoso que, após uma série de golpes, assume o controle dos bens de tal família. Com algumas variações, esse foi o mote central de Da Cor do Pecado (2004), Cobras e Lagartos (2006), A Favorita (2008), Avenida Brasil (2012) e A Regra do Jogo (2015). Aliás, uma cena que se tornou marcante na obra de João Emanuel Carneiro é a destruição que o vilão proporciona ao tomar posse dos bens de seus rivais. Leona (Carolina Dieckman), ao tomar posse da Luxus em Cobras e Lagartos, inicia um ritual de destruição da loja de luxo, que culmina com um incêndio no local. Flora (Patrícia Pillar), ao comprar o rancho que por décadas pertencera aos Fontini em A Favorita, começa a quebrar os vasos, simbolizando a ruptura com os antigos moradores.
            Ainda em se tratando de estilos Glória Perez, por vezes, abrangeu a cultura de dois – ou mais – países em suas tramas: O Clone (2001) foi focada no diálogo Brasil-Marrocos; América (2005) mostrava a ligação Brasil-EUA; Caminho das Índias (2009) era centrada na história de personagens que transitavam entre Brasil e Índia passando, por vezes, pelos EUA. Salve Jorge fechou, por enquanto, o ciclo internacional de Perez, sendo focada nas culturas de Brasil e Turquia. A bem-fadada A Força do Querer, embora não tenha explorado culturas internacionais, mostrou as diferenças de dois pontos do Brasil: o sudeste e o norte do país.
            Com Benedito Ruy Barbosa, fomos apresentados a um Brasil bem regionalista. Tramas como Renascer, O Rei do Gado e a já citada Velho Chico, mostravam o interior do país e eram focadas, basicamente, no homem do campo. Há ainda a interferência italiana nas obras do autor.
            Por fim, criticar Walcyr Carrasco por “repetir ideias” em sua novela seria o mesmo que desconsiderar tudo o que foi feito pelos autores citados nos parágrafos acima e dizer que tais repetições seriam erros – o que não acredito que seja mesmo - exclusivos de Carrasco.
            Em relação ao autor da novela das nove, vale salientar que seu estilo começa pelo jogo de palavras usado nos títulos: geralmente baseados em ditados populares, suas histórias passam da percepção comum do cotidiano para temas mais profundos. São exemplos de títulos com esses jogos de palavras O Cravo e a Rosa (2000), Chocolate com Pimenta (2003), Alma Gêmea (2005), Sete Pecados (2007), Caras & Bocas (2009), Morde & Assopra (2011), Verdades Secretas (2015) e, agora, O Outro Lado do Paraíso. Para entendermos a obra Carrasquiana, precisamos começar a análise pelo título: em todas as obras citadas acima há a existência de um paradoxo que será devidamente destrinchado no decorrer dos seus capítulos.
            Atentando-se, basicamente, a O Outro Lado do Paraíso, vemos, novamente, essa dicotomia de sentidos que enriquecem as obras de Walcyr Carrasco. A palavra Paraíso, aqui, pode ter dois sentidos: o primeiro é a própria denotação de “paraíso” como lugar sagrado, céu. Como me disse há alguns dias a cantora Marli Maciel, o outro lado do paraíso, ou seja, seu oposto é o próprio inferno. E não foi o “inferno” que Clara experimentou nos anos de confinamento no hospício? Além disso, Elizabeth, com sua falsa morte, e agora os mineiros soterrados não estão experimentando um pouco do inferno?
            Em outra conotação, podemos inferir como “paraíso” o cenário em que se passa a trama: as belas paisagens do Tocantins são como um pedaço do paraíso na terra e, no entanto, o que se mostra na novela é o outro lado disso: o lado ruim de pessoas ruins que tramam para conseguirem se dar bem à custa de tudo e de todos. Ou seja, Walcyr está mostrando aqui o outro lado daquele lugar tão bonito: o lado perverso formado pelas pessoas perversas, representadas na história por Sophia, pelo juiz, pelo delegado e tantos outros. Há uma menção a este “lado ruim” já na abertura, quando a natureza é mostrada às avessas com a água voltando para dentro da fonte ou a cachoeira que sobe, em vez de cair. Ao fim da abertura, a paisagem paradisíaca é transformada em uma paisagem árida, queimada, sombria, simbolizando, assim, o outro lado...
            Clara, personagem de Bianca Bin experimentou esse outro lado e voltou para se vingar. Esse é o mote da trama. Algo comum no universo carrasquiano e, nem por isso, pobre: Ana Francisca de Chocolate com Pimenta foi humilhada na juventude, voltou poderosa e disposta a se vingar. No meio da vingança, sofre um duro golpe e perde tudo, tendo que recomeçar do zero. O mesmo está para acontecer com Clara e o mesmo aconteceu com outras heroínas de Walcyr: Cecília penou para viver seu amor com Valentim em A Padroeira. Catarina lutou para se impor em uma sociedade machista e, ao mesmo tempo, viver seu amor com Petruchio em O Cravo e a Rosa e Serena teve que se adaptar a uma nova vida para entender sua missão em Alma Gêmea. Todas foram da glória ao caos e de novo à glória em suas tramas.
            Outro ponto positivo nas obras de Walcyr é que ele nunca termina em um lugar comum. Denis, personagem de Marcos Pasquim em Caras & Bocas, era um sujeito boa praça que se deixa levar pela fama e passa a falsificar quadros. A maioria dos autores terminaria a novela no ponto em que ele é desmascarado e preso. Agradaria ao público e aos críticos com sua justiça! Carrasco, porém, preferiu explorar um lado avançado do personagem: ele é preso, paga por seus crimes e volta à sociedade para ter uma nova chance.
            O mesmo acontece com Félix, de Mateus Solano em Amor à Vida: ele foi o pior vilão da história, mas não teve seu encerramento decretado na cena em que foi desmascarado: foi além, desceu ao inferno e purgou todo o caminho de volta, com direito a final feliz.
            Não que eu defenda veementemente a ideia de uma inversão de papeis em toda obra, com mocinho virando vilão e vice-versa, mas, para fins de entretenimento, isso é ótimo para livrar a novela de ser repetitiva.
            Além disso, tal fato torna os personagens de Walcyr mais humanos: os protagonistas não são 100% bom ou 100% mau, mas moldam seu caráter de acordo com as necessidades. E, na vida real, não é assim que acontece?
            É claro que há, também, os genuinamente bons ou maus. No caso de O Outro Lado do Paraíso, personagens como Sophia, o juiz e o delegado preenchem o requisito dos vilões-mor. Para fins de dramaticidade, isso é essencial e Walcyr sabe muito bem como fazê-lo.
            Em relação a possíveis erros em O Outro Lado... eles não são maiores ou piores do que os de suas antecessoras ou de qualquer obra extensa como uma novela ou série de TV que se arraste por meses ou temporadas. A própria Glória Perez teve que explicar que era possível, sim, que Ivana estivesse grávida de Cláudio, já que eles haviam feito sexo depois da passagem de tempo e não antes – o fato gerara confusão em parte do público de A Força do Querer. Também Manoel Carlos teve que usar números estatísticos para justificar a rápida gravidez de Helena para salvar Camila em Laços de Família e por aí vai. Se querem erros mais explícitos na trama de Carrasco, posso citar a capa de It, de Stephen King, que Lívia lê nos primeiros capítulos. A novela se passava em 2007 e tal capa pertence a uma edição lançada em 2013. Isso diminui a qualidade da novela? Nunca!
            Portanto, dizer que O Outro Lado... é uma obra menor por conta de erros, não justifica a crítica em si, é apenas uma desculpa para expor o ego inflado do crítico. Um dos críticos teve o desplante de dizer essa semana que a personagem de Juliana Caldas foi “reduzida a uma versão tosca de Escolinha do Professor Raimundo”. Ora, em nenhum ponto as cenas de Estela como professora, a fizeram uma personagem pior ou desvalorizada. Ao contrário, coube a Estela uma das melhores e mais bonitas missões da novela: alfabetizar os adultos que não tiveram essa oportunidade na infância (olha o Walcyr fazendo merchandising social sem precisar lançar mão do estardalhaço). Se o crítico não soube enxergar a nobreza em se alfabetizar prostitutas e mineradores desvalidos, o problema está na percepção dele e não do autor.
            Outra crítica feita outro dia, comparava a atual novela das nove com Malhação: Viva a Diferença. Um crítico limava a obra de Walcyr e exaltava a trama infanto-juvenil.
            Realmente, Cao Hamburger fez um trabalho majestoso com Malhação, mas comparar as duas tramas apenas por serem contemporâneas, seria o mesmo que comparar o livro com o filme. Não dá! São obras diferentes para públicos diferentes. Embora alguns temas sejam semelhantes – a homossexualidade abordada em Malhação e O Outro Lado..., por exemplo – o enfoque será sempre diferente. Qual deles está certo e qual deles está errado? Nenhum! São apenas pontos de vista diferentes sobre o mesmo tema. Não havendo preconceito ou incitação ao ódio, não há problema na discordância do tema.
            E se é para falar em pequenos erros, a finada temporada de Malhação cometeu, ao menos, três deles em seus derradeiros capítulos: o primeiro deles foi no capítulo exibido em 14 de fevereiro: durante a prova do Enem, o relógio na parede da sala de aula marcava 10h44, porém, a prova do Enem começa a ser aplicada após o meio-dia! No mesmo capítulo, perto do fim, o personagem Roney decide ensinar Tato, que recém-completara 18 anos, a dirigir. Há três problemas aqui: o primeiro é que Roney não era instrutor de autoescola e nem o carro era apropriado para tal função. O terceiro problema é que a última cena do capítulo mostra Tato dirigindo por uma movimentada via de São Paulo durante um razoável período de tempo. Ora, qualquer um em sã consciência sabe que, para se aprender a dirigir é necessário, antes, passar por aulas de legislação e, só então, começar as aulas de direção com profissional e veículos capacitados. Embora aconteça na prática, qualquer caso que fuja a essa regra pode ser considerado crime de trânsito e a novela, que até então prezara por um discurso politicamente correto de seus protagonistas, mostrou a cena e não criou nenhuma punição para os envolvidos nesta “pequena” infração. Outro erro foi o final de Malu: ela forjou notícias falsas – em uma época que tal prática é constantemente refutada por veículos de comunicação –, pôs em risco as vidas de Benê e Dóris e... termina impune viajando para fora do país. A fuga de Reginaldo Faria em Vale Tudo (1988/89) tornou-se icônica, mas usar tal argumento em uma novela voltada para o público infanto-juvenil parece reforçar a ideia de que o crime compensa. O famoso “dá nada pra mim” tão difundindo entre adolescentes infratores.
            Ainda na linha de “repetição de ideias” em que um crítico reclamou do segundo golpe da barriga sofrido pelo personagem Bruno (Caio Paduan) em O Outro Lado do Paraíso, o fato também foi usado repetidamente em Viva a Diferença: Tato foi pai duas vezes sem ter sido! A primeira, quando assumiu o filho de Keyla, apenas porque quis – Ok, ele era um bom moço – a segunda, quando K2 mentiu que estava grávida. Se não houve golpe da primeira vez, houve da segunda...
            O mesmo pode ser dito das duas falsas mortes dos amados de Maria Vitória em Tempo de Amar: ela se envolveu com Vicente, pois achou que Inácio estava morto e agora pode se envolver com Inácio, pois acha que Vicente sucumbiu ao acidente no mar... Que coisa, não?
            Tais erros, porém, diminuíram a qualidade e os avanços propostos por Viva a Diferença? Não! Podem ter tido seus pesos, mas não abafou o mérito de Cao Hamburger. O mesmo vale para Alcides Nogueira e Tempo de Amar.
Assim, percebemos que lapsos textuais, de continuidade ou de situações são propensos a acontecer com qualquer autor, que dirá com o mais produtivo da Globo. Contratado em 2000 com O Cravo e a Rosa, Walcyr Carrasco tem emplacado uma novela a cada um ano e meio praticamente. Já são dezoito anos na emissora e uma coleção de bons títulos, que percorreram os horários das seis, sete, nove, onze, faixa das minisséries e, claro, o Vale a Pena Ver de Novo, afinal, se tem uma coisa que Walcyr sabe fazer é escrever uma boa história, cheia de reviravoltas, de confrontos entre protagonistas e de tipos que conquistam o público.
São deles, aliás, algumas das cenas mais emblemáticas da teledramaturgia nacional: de Xica da Silva desfilando nua na Manchete a Félix e Niko dando o primeiro beijo gay em horário nobre da Globo, passando por Bernadete se descobrindo Bernardo na faixa das 18h, entre tantas outras...
Tais cenas mostram a inteligência, versatilidade e a aproximação do autor com seu público. Então, se o público está feliz, cabe a nós, os críticos, engolirmos o orgulho e aceitar que, sim, Walcyr é um dos maiores e melhores autores de sua geração. É claro que nem todos precisam gostar da obra de um determinado autor, mas desconsiderar seu histórico e seus pontos positivos para apenas falar mal do que não se gosta, é descambar para a simples e boba perseguição. E isso não é nem nunca foi papel do crítico.
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