segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

[MEMÓRIA AFETIVA] – Celebridade


Novela que foi substituída por “Senhora do Destino” em 2004, a substitui a partir desta semana no “Vale a Pena Ver de Novo”
            O período compreendido entre 2003 e 2005 foi de grande importância para a teledramaturgia brasileira em uma de suas principais faixas de telenovela: a das “oito da noite” (mesmo que naquela época, as novelas já começassem quase às nove horas). Entre a modorrenta “Esperança” (2002/2003) e a controversa “América” (2005), a TV Globo produziu e exibiu três grandes sucessos no horário. A trinca de novelas inovou não só na narrativa e nos temas abordados, como também em seus produtos derivados e campanhas sociais. Foram elas: “Mulheres Apaixonadas”, de Manoel Carlos, em 2003; “Celebridade”, de Gilberto Braga, entre 2003 e 2004; e “Senhora do Destino”, de Aguinaldo Silva, entre 2004 e 2005.
Mulheres Apaixonadas
            Primeira novela de Manoel Carlos após o sucesso “Laços de Família” (2000), a trama abordou diversos temas transversais à história principal. Alcoolismo, câncer de mama, violência doméstica, relacionamento entre uma mulher mais velha com um homem mais novo (em, ao menos, dois casos: a professora Raquel com o estudante Fred e a personagem de Susana Vieira com um modelo), violência urbana, relacionamento homossexual, direito dos idosos, relacionamento amoroso entre um padre e uma socialite, entre diversos outros temas, que deram gás à trama e a fizeram deslizar suavemente por quase dez meses de exibição, alavancando a audiência do horário, incentivando campanhas (contra a violência doméstica, pela paz, pela prevenção ao câncer de mama, etc). Em um dos capítulos mais marcantes, o elenco da novela participou de uma caminhada pela paz nas ruas do Rio de Janeiro. A caminhada era promovida por uma ONG e acabou sendo exibida dentro da novela. A trama também inovou em seus produtos: o CD com a trilha sonora, que já saía com o encarte com as letras das músicas desde “O Clone” (2001), foi lançado pela primeira vez em formato duplo: Trilhas Nacional e Internacional saíram em um único volume, trazendo na capa o ator Rodrigo Santoro e na contracapa a atriz Carolina Dieckman. O encarte trouxe uma entrevista com o autor Manoel Carlos e as letras das canções internacionais.
            Durante a novela, Rodrigo Santoro se ausentou do país para gravar o filme As Panteras Detonando, regressando nos capítulos finais.
            A novela foi reprisada em 2008 no Vale a Pena Ver de Novo.
Senhora do Destino
            No ar a partir de junho de 2004, a trama é uma das mais bem aceitas entre as novelas pós-2000 de Aguinaldo Silva. Sem usar o recurso do realismo fantástico, tão comum em suas novelas até os anos 1990, o autor contou a história de Maria do Carmo (Susana Vieira), em busca da filha sequestrada.
            Também longa, a trama conquistou o país e, hoje, com o advento da internet e redes sociais, catapultou a personagem Nazaré (Renata Sorrah) como uma das “rainhas dos memes” ao lado de Gretchen.
            A famosa cena da escada, em que Nazaré mata o marido, foi repetida várias vezes dentro da própria novela, seja em flash-backs ou releituras, como a morte da personagem Djenane ou no atentado à Cláudia e, por fim, nas novelas seguintes de Aguinaldo, como Fina Estampa e Império.
            Nazaré esteve cotada para voltar em O Sétimo Guardião, novela prevista para estrear em 2018, mas que foi cancelada por problemas judiciais. Aguinaldo, no entanto, não descarta a ideia da personagem retornar em Enquanto o Lobo Não Vem, título provisório da novela que ele criou para substituir a trama cancelada.
            Senhora do Destino já havia sido reprisada em 2009 no Vale a Pena Ver de Novo e ganhou uma nova reprise este ano, entrando no ar em março.
Celebridade
            Finalmente, chegamos à Celebridade, tema desta matéria. Escrita por Gilberto Braga e Leonor Bassères, a trama substituiu Mulheres Apaixonadas e foi substituída por Senhora do Destino.
            Segunda-feira, 13 de outubro de 2017. Naquele dia, começava a trama de Maria Clara Diniz (Malu Mader) . Ex-modelo, a produtora de eventos tinha uma vida animada e teve a carreira alavancada pelo sucesso de uma música. Maria Clara também havia sido vítima de uma tragédia: o assassinato do noivo no dia do seu casamento, anos antes. O assassino, que reivindicava a autoria da música, ficou preso e agora que a trama está começando, está prestes a sair da cadeia.
            Cruza o caminho de Maria Clara, a perigosa Laura (Cláudia Abreu), que acredita que o pai tenha feito a tal canção para sua mãe. De modo ardiloso, Laura aproxima-se de Maria Clara e consegue um emprego em sua empresa. Aos poucos, ela vai descobrindo segredos da produtora e, com as informações conseguidas, consegue dar um golpe tomando boa parte do império da milionária.
            Paralelo a isso, Maria Clara se envolve com Fernando (Marcos Palmeira), fotógrafo e cineasta que vive um casamento frustrado. Pai de dois filhos, o homem também tem sua cota de tragédia pessoal quando um dos rapazes morre num trágico acidente aquático.
            Em outro núcleo da novela, o protagonista fica por conta de Darlene (Déborah Secco) e Jaqueline (Juliana Paes), duas aspirantes à high-sociaty que farão de tudo para serem famosas. Por conta disso, Darlene fará seu amado perder o emprego no Corpo de Bombeiros, enquanto Jaqueline arriscará ser apresentadora num programa de TV. Ainda pensando em se dar bem na vida, Darlene fará uma inseminação artificial de um ricaço. O resultado, bom... tem que ver para crer.
            Renato Mendes (Fábio Assunção) é outra peça fundamental na novela. Ele é um jornalista inescrupuloso que dirige a revista Fama, pertencente ao grupo de comunicação de Lineu Vasconcelos (Hugo Carvana). Lineu, por sua vez, é aquele que será misteriosamente assassinado, iniciando um dos melhores “quem matou?” do começo dos anos 2000.
            Além da morte de Lineu, o advogado vivido por Otávio Müller também perde a vida pelas mãos do mesmo assassino misterioso. Já Fábio (Bruno Ferrari), filho de Fernando e Caio (Theo Becker), que também morrem durante a trama, não têm ligação com os assassinatos, mas, curiosamente, suas mortes apresentam uma semelhança: a água.
            Infelizmente, não foi apenas a ficção que teve seus momentos de luto. Em janeiro de 2004, Leonor Bassères não resistiu a um câncer e faleceu. Gilberto Braga alçou, então, Ricardo Linhares ao posto de coautor.
            Seguindo a linha de sua antecessora, Celebridade também lançou sua trilha sonora em CD duplo: Nacional e Internacional foram lançados em um kit estampado por Malu Mader na capa e contracapa. Depois, teve a trilha complementar “Samba”, cuja capa foi estampada por Juliana Paes.
            Após a morte de Lineu, a novela, que já havia conquistado o país, passou a prender a atenção do espectador ainda mais, já que qualquer cena, diálogo ou movimento poderia revelar a identidade do assassino.
            Os fins dos personagens também renderam muitos boatos devido aos vários possíveis desfechos alimentados à época pela mídia. No final, porém, foi como o público queria: mocinhos apaixonados se dando bem e vilões sendo castigados.
Pessoalmente...
            Um texto que se propõe a trazer “memórias afetivas” tem que ter algo de pessoal do seu autor. Por isso, nas linhas abaixo, tentarei relembrar fatos marcantes para mim durante a exibição dessa novela.
            Pra começar, não trago boas recordações do primeiro capítulo desta que é uma das minhas novelas preferidas. Naquela segunda-feira, 13 de outubro, perdi uma prima que tinha apenas cinco anos de idade.
            Internada há algum tempo, recebemos a notícia de que o estado de saúde dela havia ficado mais delicado no sábado, 11 de outubro, dia da reprise do último capítulo de Mulheres Apaixonadas.
            Embora tenha amado a trama de Manoel Carlos, pra mim o clima começou a pesar quando os personagens Fred e Marcos morreram no penúltimo capítulo. A alta carga dramática da cena (pra mim, uma das melhores, embora mais tristes da novela), mesclada à realidade que eu vivia na própria família, me deixaram em um clima mais sombrio e pessimista naquele meio de mês.
            É tradição em minha casa distribuir balas e doces para crianças no dia 12 de outubro e estávamos fazendo os pacotinhos quando recebemos a ligação sobre o estado de saúde de minha prima.
            Terminamos de fazer os pacotes e nos preparamos para ir para a casa da minha avó prestar nossa solidariedade, quando o telefone tocou novamente, informando sobre uma “leve melhora” no quadro de saúde.
            Deixamos para ir no feriado.
            Durante o dia 12, minha prima permaneceu estável e no dia 13 pela manhã, minha mãe e uma tia foram visitá-la no hospital. Voltaríamos pra casa, dependendo de seu estado de saúde. Como era “Semana das Crianças” e não havia aula nas escolas, algumas outras primas viriam conosco. Infelizmente, quando minha mãe e tia chegaram do hospital no meio da tarde, os semblantes não traziam muito conforto. Minha prima não estava bem.
            À noite, começamos a ver o primeiro (e explosivo) capítulo de Celebridade. Lembro-me de minha avó comentar sobre como Malu Mader estava bonita e uma tia falar sobre a abertura, quando eu reclamei que era apenas instrumental. Ela disse: “mas, geralmente, essas ‘coisas’ de desfiles e modelos são assim...”. Rimos um pouco. No intervalo da segunda para a terceira parte, o telefone tocou com a notícia: minha prima não havia resistido. Pra mim e pra toda minha família, o primeiro capítulo de Celebridade acabava ali. Até hoje, mesmo lembrando com carinho da trama, pego-me inconscientemente lembrando do momento em que aquele telefone tocou. Saudades, querida Synara.
            Do segundo capítulo lembro pouco ou nada. Sei que assisti algumas cenas, mas não me recordo bem, já que havíamos chegado há pouco do velório e enterro. Assim, só passei a acompanhar a novela pra valer, a partir do terceiro capítulo e lembro de ter ficado maravilhado com a novela.
            O enredo atraente, a atuação, direção e, claro, a trilha sonora! Inclusive, ganhei o CD Internacional (versão pirata, mas de coração) de uma “amiga-oculta” no fim de ano da escola.
            Enquanto Celebridade estava no ar, concluí o Ensino Fundamental. Na época estudava na Escola Municipal José Paulo de Barros, em um bairro vizinho ao meu. Em 2015, lecionei por seis meses nessa mesma escola. Meu avô me presenteou com uma caneta folheada a ouro com meu nome gravado nela. No dia da formatura, o carro do meu pai quebrou e um primo nos levou no carro dele até o local da cerimônia. Lembro-me de ter ficado com raiva por ter perdido o Casseta e Planeta daquela noite...
            Em janeiro de 2004, em férias na casa da minha avó, revi “Brinquedo Assassino” e “O Exorcista”, além de ver, pela primeira vez, “Cemitério Maldito” e “Cemitério Maldito 2”, todos em VHS... Um salve para as videolocadoras!
            Em 02 de fevereiro de 2004 iniciei meu Ensino Médio na Escola Estadual Machado de Assis, no Centro de Vespasiano (oficialmente, bairro Názia, embora a maioria fale que é no centro da cidade). No dia 13 daquele mês, uma sexta-feira, assisti A Hora do Pesadelo 6 – O Pesadelo Final – A Morte de Freddy em Tela de Sucessos e no sábado, 14/2, consegui, finalmente, assistir Freddy X Jason, em VHS. Desde que o filme estreara nos cinemas no outubro anterior, ficara ansioso para assisti-lo. Como não consegui vê-lo nas telonas, tive que esperar pelo lançamento nas locadoras. Assisti no mesmo fim de semana Dinotopia. Cabe aqui outra curiosidade particular: naquela época, meu videocassete estava estragado e eu pegava emprestado um aparelho com um amigo. Geralmente, aos sábados ou domingos, nós dois alugávamos filmes juntos e após um assistir, passava as fitas e o aparelho para o outro. No dia 28 de fevereiro daquele ano, um sábado, comprei meu primeiro aparelho de DVD... Os três filmes que inauguraram a nova tecnologia em casa foram Homem-Aranha e O Chamado, alugados, e Epidemia, comprado junto com o aparelho. Um saudoso abraço para Wesley Bragança, o Du, meu amigo da época dos videocassetes e que, infelizmente, nos deixou precocemente em dezembro de 2007...
            Algum tempo depois assisti “Maria, Mãe do Filho de Deus” e “Looney Tunes – De Volta à Ação”, também sucessos em suas estreias no fim de 2003.
            Também foi nesse período que eu usei aparelho nos dentes (acho que preciso voltar a usar, hahahá), algo que, definitivamente, não me incomodava. Aproveitava o troco da passagem de ônibus, que ia juntando numa gaveta, para comprar um DVD nas Lojas Americanas quando ia para a manutenção mensal... Foi o começo da minha – hoje grande – coleção de filmes. Adquiri naquela época O Massacre da Serra Elétrica, A Noiva de Chucky, o kit Halloween 2 e 3 e Bud – O Cão Amigo.
            Outros títulos me chamaram a atenção enquanto Celebridade estava no ar, em especial Chocolate com Pimenta, às 18h, e Da Cor do Pecado, às 19h. As duas novelas, aliás, já ganharam duas reprises cada no Vale a Pena Ver de Novo. Estava passando da hora de Celebridade pintar na sessão.
            Além das boas histórias, com direito à Ana Francisca (Mariana Ximenes) levando um banho de tinta à la Carrie, a Estranha e uma louca Giovana Antonelli perseguindo Taís Araújo por todos os cantos, as trilhas das duas novelas caíram no gosto popular. Que jogue o primeiro fone de ouvido quem nunca cantarolou “Além do Arco-Íris” ou tentou imitar os poderosos timbres de Alcione nos versos “Mas tem que me prender, tem que seduzir....”
            O ano de 2004 trouxe ainda a Vagabanda em uma das mais famosas temporadas de Malhação de todos os tempos – e a primeira que eu acompanhei do começo ao fim. Nos intervalos das aulas no colégio, eram comuns os comentários acerca de Chocolate..., Da Cor..., Celebridade..., e, claro, Malhação.
            Mais ou menos na mesma época, estreou o fenômeno Rebelde no SBT. Não gostava nem assistia, mas que a novela fazia um baita sucesso entre adolescentes, ah, isso fazia!
            Por fim, antes daquele ano acabar, teve início A Escrava Isaura na Record. Essa eu também assisti na íntegra.
            No penúltimo capítulo de Celebridade, fiz um bolão na escola valendo três pipocas Aritana! Ninguém, porém, acertou o assassino de Lineu.
            Na segunda-feira seguinte, Senhora do Destino entrou em cena com um capítulo gigante. Não vi, porém, a Lindalva ser sequestrada no segundo capítulo, já que era uma terça-feira, 29 de junho, dia de São Pedro, em que minha família, tradicionalmente, faz uma Festa Junina com direito à fogueira, quentão, canjica e muito mais. A festa é feita pelos meus pais desde 1989 e apenas em 2004 resolvi batizá-la de “Arraiá di Souza”. A primeira edição com nome foi também a última feita em um dia útil. A partir de 2005, passamos a fazer a festa no fim de semana mais próximo do dia 29...
            E assim, hoje, segunda-feira, 04/12/2017, enquanto assisto à volta de Celebridade e o começo do fim de Senhora do Destino, relembro aqui essas história pessoais e coletivas sobre esse momento tão peculiar da minha vida e, claro, da TV brasileira.

            Que venham as cenas dos próximos capítulos.