domingo, 28 de setembro de 2014

AS ELEIÇÕES 2014 E UM CONTO DE NATAL


            O pleito que irá escolher o próximo presidente da República se aproxima e a sensação que temos é que em 2014 os candidatos estão mais despreparados, desinteressados e menos confiáveis que em eleições anteriores. Com propostas vagas e ataques ridículos aos adversários, falta aos candidatos deste ano uma “pegada política” que os de outros anos possuíam. Além disso, os presidenciáveis de 2014, sofrem ainda com o mal dos “espíritos do passado”, o que nos remete a “Um Conto de Natal” de Charles Dickens.
            Na história em questão, Ebenezer Scrooge era um velho avarento e ranzinza, sem amor próprio e sem sentimentos para com o próximo. Na véspera de Natal, recebe a visita dos espíritos dos Natais Passado, Presente e Futuro, que têm a missão de fazê-lo uma pessoa melhor.
        No caso dos candidatos à presidência, o passado está tão impregnado neles, que quase não conseguimos vê-los. Comecemos por quem já está no poder: a presidenta Dilma Rousseff. Dilma é a primeira mulher a ocupar a cadeira da presidência da república no Brasil, porém, seu governo foi marcado pelo espírito do presidente passado: Luiz Inácio Lula da Silva. Falta-lhe uma marca própria, algo que caracteriza seus quatro anos de gestão. Ela não foi uma presidenta ruim, mas sim, uma presidenta sem rosto e sem voz. A impressão que temos é que ela só está preenchendo uma lacuna entre Lula e um próximo presidente.
            Marina Silva, por sua vez, teve uma expressiva votação nas Eleições 2010. Foi a melhor colocada entre todos os terceiros lugares da história política nacional. E o melhor: esteve em foco nos últimos quatro anos. Poderia ter usado essa força para marcar sua candidatura em 2014. Problemas partidários à parte, Marina preferiu se esconder atrás do espírito – sem trocadilhos – do passado de Eduardo Campos, candidato que faleceu tragicamente durante a campanha e que Marina, como vice, assumiu o lugar. Em seus discursos, Marina opta por lembrar Eduardo, em vez de se mostrar como a real candidata à presidência.
            Quanto a Aécio, temos – no mínimo – dois erros: um do partido e um do candidato. Vamos primeiro ao do partido: há quatro anos, quando deixou o governo de Minas Gerais, Aécio saiu com um popularidade e uma aprovação altíssimas. Uma das maiores do país. Se o PSDB tivesse optado pelo nome do mineiro, em vez do paulista José Serra, Aécio poderia ter vencido. Mesmo que não vencesse, teria ganhado uma força (assim como Marina ganhou) e poderia aproveitá-la agora. A escolha de Serra foi infeliz. O candidato não demonstrava simpática, confiabilidade e não agregou força à legenda ou ao seu sucessor. Vamos agora ao erro de Aécio: como senador, pouco fez. As vezes em que apareceu na mídia, criticou infundadamente a presidência. Nem quando assumiu o cargo como presidente interino deixou sua marca e hoje, apega-se exageradamente ao espírito do passado de seu avô, Tancredo Neves, importante político que faleceu antes de tomar posse como presidente do Brasil.
            Por fim, vemos que os três principais candidatos preferem esconder-se sob uma cortina do passado – muitas vezes brilhante, é verdade – ao invés de apontarem um futuro promissor. E isso enfraquece a credibilidade e aumenta a dúvida na hora de escolhermos nosso próximo representante.
            Quanto aos demais candidatos, é fácil perceber neles velhos clichês que também não nos levam a lugar algum. Podemos facilmente encontrar nos chamados “nanicos”, os espíritos do passado de Plínio, Enéas, entre outros.
            Lamentável.

APS, 28/09/2014