sexta-feira, 31 de março de 2017

“A Lei do Amor” Tinha Tudo Para Ser Um “Novelão”, Mas Termina Só Como Uma “Novela” Mesmo...


Diversas mudanças descaracterizam esta que poderia ter sido um dos melhores trabalhos de Maria Adelaide Amaral



Bastou ser anunciada para que A Lei do Amor causasse um verdadeiro frenesi entre os telespectadores: de autores a elenco, tudo chamava a atenção, de maneira positiva, na “nova novela das nove”. Passados alguns capítulos, porém, o interesse do público diminuiu.
A trama inicial se mostrou confusa, com muitos personagens e tramas paralelas que confundiam quem assistia. O jeito encontrado pelos autores foi mudar, ao gosto do público, o que não agradava. E aí é que foi o erro.
Os autores Maria Adelaide Amaral e Vincenti Villari fizeram concessões demais e acabaram descaracterizando a trama. Personagens tiveram os rumos modificados demais e muitos acabaram  perdendo sua função na história.
Vários personagens foram retirados da história e as justificativas foram as mais variadas: prisões, viagens e mortes. Neste último caso, nem mesmo a trama policial, que geralmente serve para sustentar uma trama que não vai tão bem, conseguiu segurar a onda: as mortes eram previsíveis e sem maiores emoções. Nos casos de viagens e prisões, os personagens acabaram voltando na fase final da novela, complicando ainda mais a regularidade da trama.
O mistério acerca da identidade de Isabela/Marina se perdeu. O que poderia ser um excelente gancho, acabou se tornando enfadonho. Assim como a história de amor entre Pedro e Helô, que começou com uma história bem amarrada, mas se esvaiu. Nem mesmo o triângulo amoroso formado pela chegada de Laura conseguiu aumentar a emoção.
A novela, no entanto, merece destaque por algumas cenas: a morte de Zelito foi extremamente bem gravada. A posição da câmera (dando a impressão de estar dentro do chão) foi um grande acerto. A morte de Beth também foi interessante. A trilha sonora foi outro destaque, uma pena que as melhores músicas tenham saído apenas no “volume 2”, quando a novela já estava próxima do fim.
As atuações de Tarcísio Meira (Fausto) e Vera Holtz (Magnólia) não deixaram a desejar, assim como as de Grazi Massafera, que por vezes, roubou o destaque dos protagonistas.
Incrivelmente, na penúltima semana a novela conseguiu empolgar de novo com as cenas da prisão e fuga de Magnólia e sequestro da Helô.
No fim, “A Lei do Amor” não foi um grande sucesso, mas vai deixar um pouco de saudade, principalmente devido a algumas referências, como Hércules vestido com as roupas de sua mãe (lembram de “Psicose”) e o, agora, provável embate final entre Marina/Isabela e Tiago na lancha (“Verdades Secretas”), entre outras no decorrer da trama. É uma pena ver que “A Lei do Amor” era uma forte candidata ao título de “novelão”, daqueles arrebatadores, mas que termina apenas como uma “novela” mesmo...

Nota pelo conjunto da obra: 7,5

quinta-feira, 16 de março de 2017

Estamos Diante de Uma das Melhores Safras... de Reprises!


Títulos que marcaram época na TV estão no ar ou voltarão em breve

Novelas icônicas da TV brasileira voltam à cena em 2017

É estranho começar uma matéria falando bem de reprises quando, no texto publicado anteriormente, eu criticava justamente a velocidade de refilmagens cinematográficas. No entanto, como o presente artigo não é sobre cinema e menos ainda sobre refilmagens, sigamos com o que o título nos propõe: estamos diante de uma das melhores safras de reprises de todos os tempos na TV brasileira.
Fã de novelas desde a infância, acompanho as tramas inéditas e as reprises em diversas emissoras há quase três décadas. Desde 2011 acompanho também, com certa regularidade, as obras exibidas pelo canal Viva (pertencente ao grupo Globo e que reexibe alguns de seus principais programas).
Pois bem, o que teremos, nos próximos meses, é a feliz coincidência de títulos de alta qualidade exibidos simultaneamente em vários canais. Alguns já começaram, outros estrearão em breve.
Na Record, entre inéditas bíblicas e reprises “contemporâneas” à tarde, um título merece destaque: “Escrava Isaura”, exibida originalmente entre 2004 e 2005, é reexibida na faixa das sete da noite. A novela traz a atriz Bianca Rinaldi no papel título e alguns atores que estiveram na versão da Globo, na década de 1970. O enredo, a direção, a trilha sonora e a fotografia valem cada capítulo.
No SBT, o que impera são as tramas infanto-juvenis. E no quesito reprise, está em cartaz a refilmagem de Chiquititas. Tudo bem que o remake da versão brasileira, que por sua vez é um remake da versão mexicana, não teve o mesmo impacto dos anos 90, mas, ainda assim, atende os anseios do seu público-alvo: tanto que teve 545 capítulos, ficando no ar entre 2013 e 2015. A história é leve, divertida, e tem os apelos necessários da idade.
Na Globo, os últimos capítulos do sucesso “Cheias de Charme” são exibidos ao mesmo tempo em que os primeiros de “Senhora do Destino” se desenrolam. Tanto a trama de 2012 quanto a de 2004 tornaram-se icônicas para a sua época e agora, com o advento das redes sociais, estão causando um verdadeiro frenesi de comentários e compartilhamentos todas as tardes.
O já citado canal Viva está no ar com três novelas totalmente diferentes, mas igualmente importantes para a história da TV: “Pai Herói”, da década de 1970, de Janete Clair; “A Gata Comeu”, dos anos 80, de Ivani Ribeiro (coincidentemente, outro “remake”) e “Torre de Babel”, de Sílvio de Abreu, da década de 1990.
Como as novelas acabam ainda no primeiro semestre, o Viva já divulgou duas de suas novas exibições: “Tieta”, de Aguinaldo Silva, o mesmo de “Senhora do Destino”, assume a faixa de “A Gata Comeu” e “Por Amor”, de Manoel Carlos, assume o lugar de “Pai Herói”. Enquanto o anúncio da primeira foi recebido com entusiasmo, a reprise de “Por Amor” dividiu opiniões, já que a trama já fora exibida no canal em 2010. A explicação do Viva para uma nova exibição da novela se dá pelo número de assinantes, que aumentou consideravelmente em sete anos (a maioria dos que assistem ao Viva agora não tinham acesso ao canal sete anos atrás) e a distância entre esta reprise e sua última exibição na TV aberta: a obra foi cartaz do “Vale a Pena Ver de Novo” em 2002, ou seja, quinze anos atrás. A emissora ainda não divulgou sua terceira novela, que ocupará o lugar de “Torre de Babel”.
E, no fim, uma agradável surpresa: a TV Aparecida, que diversificou sua programação, resolveu apostar no formato das novelas para ampliar seu público e, para alegria dos fãs saudosistas e num acordo inédito feito com a Globo, exibirá, a partir de 17 de abril, “A Padroeira”, novela de 2001 que reconta a história do encontro da imagem de Nossa Senhora Aparecida e os primeiros milagres, que deram origem à história de fé que completa 300 anos este ano.
Embora tenha o apelo católico, a novela começou tendo uma audiência fraca em 2001, mas após algumas alterações, teve fôlego suficiente para ser, inclusive, esticada, já que sua sucessora, “Coração de Estudante” estava com a produção atrasada.
Enfim, de novelas religiosas à tramas infantis, de cenas picantes à dramas éticos, de sucessos pop à vilãs memoráveis, estamos diante de um raro efeito na TV brasileira: enquanto as tramas inéditas penam para satisfazer o público e, muitas vezes pecam pela falta de uma boa história, um arsenal de reprises perfeitas começa a se desenrolar nas nossas telas...



Precisamos Mesmo de um Novo King Kong?


Página do filme no Facebook permite inserir sua foto em cena do filme


Velocidade e quantidade de refilmagens têm aumentado nos últimos anos: “Homem-Aranha” teve destino semelhante

Na última quinta-feira (09/03) estreou nos cinemas o filme Kong: A Ilha da Caveira, uma superprodução que reconta – pela quarta vez, a história do famoso gorila que invadiu os cinemas há 84 anos. Ainda não vi o filme, então não irei avaliá-lo ou criticar as cenas ou enredo aqui. O objetivo deste texto é apenas questionar o seguinte fato: precisávamos, realmente, de um novo filme do Kong?
O primeiro King Kong foi lançado em 1933, em preto e branco e é, ao lado de filmes como “E O Vento Levou” (1939) e “Branca de Neve e os Sete Anões” (1937), um dos grandes êxitos do cinema.
A história, contemporânea para a época, mostra um diretor de cinema em busca de locações para seu novo filme, quando se depara com a Ilha da Caveira, lar do gorila. A história, muitos sabem: a jovem atriz, dada como sacrifício ao Kong, conquista o coração da fera. Ao ser transportado para a cidade, Kong parte em busca da amada e o resultado é uma das mais belas e tristes cenas da sétima arte: o gorila é abatido no alto do Empire State, no centro de Nova York. A última frase do filme é “Não foram os aviões que o mataram. Foi a Bela que matou a Fera”.

Cena do filme "King Kong" - 1933
Reprodução

O filme recebeu uma continuação, intitulada “O Filho de King Kong”, também de 1933. Anos depois, o gorila ganhou uma versão japonesa e uma versão animada para a TV. Nenhuma delas, porém, é uma refilmagem da obra original. Isso só aconteceria em 1976, com um filme que se tornou um clássico do Cinema em Casa (SBT) e da Sessão da Tarde (Globo). O King Kong dos anos 70 alterou alguns detalhes do original, mantendo-se atento a sua época: em vez de um navio com uma equipe de filmagens, há um navio petroleiro, que busca novas fontes de extração. Em vez do Empire State, Kong escala o World Trade Center. Do mais, o enredo segue semelhante ao original.

A versão de 1976 foi exibida diversas vezes no
Cinema em Casa (SBT) e na Sessão da Tarde (Globo)

Esse filme também ganhou uma sequência, dez anos depois: em King Kong 2 (1986), é revelado que Kong não morreu de sua queda no World Trade Center. Ele fora resgatado e permanecera em coma por 10 anos. Ao passar por uma delicada cirurgia, Kong precisa de uma doação de sangue e a médica que cuidou dele, interpretada pela eterna Sarah Connor, Linda Hamilton, parte para a selva à procura de um gorila compatível.
Vale ressaltar que se passaram 43 anos entre a primeira versão (1933) e a segunda versão (1976) do filme.

Peter Jakson tentou ser o mais fiel possível ao original mantendo, inclusive, alguns erros.

Vinte e nove anos depois, Peter Jackson dirige a terceira versão e a mais próxima da original: em King Kong (2005), a trama é ambientada em 1933 (ano do filme original) e Nova York sofre os efeitos da crise iniciada em 1929. Uma equipe de filmagens parte para uma ilha e encontra Kong. O restante é semelhante ao original, incluindo alguns “erros” como a quantidade de dedos nas patas dos dinossauros da ilha...

Apenas onze anos separam a versão de Peter Jackson desta nova

Apenas 11 anos se passaram desde a versão de Peter Jackson e a novíssima “Kong: A Ilha da Caveira” (2016 – lançada no Brasil em 09/03/2017). Onze anos para a história ser totalmente recontada. De acordo com os produtores e sites especializados em cinema, a história não é, de fato, uma refilmagem. Ela abordará o “passado” de Kong, tanto que ele ainda não é considerado o “rei” da ilha. A trama se passa na década de 1970 e, ao contrário dos outros filmes, 95% do tempo será na ilha, não na cidade.
A grande questão, porém, que levantei no título, retorna aqui: precisávamos mesmo recontar essa história? Como cinéfilo, sou fã dos filmes do King Kong, mas não poderíamos aguardar mais alguns anos antes de reinventar sua saga? Será mesmo que não existem novos e bons roteiros, de preferência inéditos, para serem filmados?

Em quinze anos, Peter Parker teve sua origem contada três vezes:
Homem-Aranha (2002), O Espetacular Homem-Aranha (2012) e Homem-Aranha: De Volta Pro Lar (2017)

O caso de King Kong se espelha em diversos outros, como o do famoso herói Homem-Aranha. Entre o filme de Sam Raimi (2002) e o “Espetacular Homem-Aranha” (2012), que reiniciou a saga do herói, se passaram apenas dez anos. Isso mesmo: dez anos para se fazer uma refilmagem! Sem contar que entre o “Homem-Aranha” e o “Espetacular Homem-Aranha” tivemos duas sequências do primeiro, em 2004 e 2007. Ou seja, entre o último filme da trilogia de Sam Raimi e o primeiro filme da nova série se passaram apenas cinco anos. Para piorar (ou acelerar mais as coisas) a nova série já foi abandonada pela estúdio e um novo filme, de uma suposta nova série já foi anunciado: este ano estreia “Homem-Aranha: De Volta Para o Lar”. Ou seja, uma nova versão da história do herói apenas cinco anos após a, até então, “nova versão” ter sido feita. Em menos de vinte anos, tivemos três origens, com três histórias diferentes para o herói.
Se nas décadas de 1980 e 1990 o que reinava eram as sequências e, se algumas delas prejudicaram a qualidade de suas respectivas franquias, o que vemos, a partir dos anos 2000, é um excesso de refilmagens que, assim como as citadas sequências, têm prejudicado consideravelmente a qualidade e a variedade dos roteiros cinematográficos.

O que nos fica é a impressão de que os cineastas resolveram todos dar “a sua própria versão” de uma história já contada. Ou seja, “não gostei do filme de 2005. Vou fazê-lo melhor em 2010”. E um segundo: “Não gostei do que você fez em 2010. Vou fazer diferente em 2015”. E, assim, perdemos em originalidade, enquanto “ganhamos” em quantidade. Mas... precisamos mesmo?

sexta-feira, 10 de março de 2017

“Enquanto Todos Dormem” Está de Volta a Belo Horizonte

Cronograma de apresentações da peça "Enquanto Todos Dormem"
Divulgação: Thiago Cazado

Peça estrelada por Thiago Cazado ficará em cartaz no Cine Theatro Brasil Vallourec em abril

Thiago Cazado volta a BH em abril para mais uma temporada do espetáculo “Enquanto Todos Dormem”. O anúncio foi feito esta semana no Facebook do artista. As sessões acontecem nos dias 15 e 16 de abril, em horários ainda a serem confirmados, no Teatro de Câmara do Cine Theatro Brasil Vallourec, na Praça 7. Sucesso de público e crítica em 2016, a peça escrita e dirigida por Cazado, rodou o país e virou livro, que traz, além do roteiro, fotos de bastidores. Para a turnê 2017, já foram confirmadas apresentações em Brasília, Manaus, Salvador, São Paulo e Ribeirão Preto.
“Enquanto Todos Dormem” conta a história de dois soldados que passam a viver um romance durante o treinamento do exército e é ambientada no período da 2ª Guerra Mundial. Em 2016, durante a estreia em Belo Horizonte, o Blog APS entrevistou Thiago Cazado sobre o espetáculo. Releia um trecho da conversa:
BLOG APS: Quais foram as inspirações para a peça?
Thiago Cazado: Eu não tenho consciência total de onde veio a inspiração. Eu me envolvi com este tema relacionado a um "amor proibido" e as fronteiras que os personagens precisam atravessar para vivê-lo plenamente. Imaginei como deveria ser desafiador para dois jovens rapazes, recrutas do exército, viver um amor em 1938. A história foi ganhando força em minha mente e eu vi que valia uma peça!

BLOG APS: "Enquanto todos dormem" é um texto de época. Quais foram os maiores desafios para levar ao palco o cenário e o contexto histórico de 1938?
Thiago Cazado: Foi preciso usar de criatividade para transportar o público para este cenário. Mas, justamente por ser desafiador, é que as ideias ficam mais interessantes. Utilizamos de recursos na trilha sonora, efeitos de luz e etc. O teatro é um bom lugar para abusar do "faz de conta". A plateia entende e aprecia o elemento "lúdico".

BLOG APS: Em 2015, quando a peça "Relatos Não Oficiais Sobre o Andar 43" esteve em BH, você disse ao Blog APS que "escrevia com mais força" ao observar certos movimentos que tomavam conta do Brasil, como as Manifestações de 2013, por exemplo. Para conceber "Enquanto Todos Dormem" você também se utilizou da observação de algum momento político ou cultural?
Thiago Cazado: Neste caso não. "Relatos" era uma clara reação aos modos extremistas e autoritários de se pensar. Já em "Enquanto Todos Dormem", o espetáculo se concentra em ir fundo em uma história de amor e aos conflitos particulares dos personagens. É uma peça sobre amor. Mas, sem dúvidas, por ser um espetáculo que traz dois homens, militares e apaixonados entre si, gera discussões, contribui na visibilidade de relações homoafetivas e, desta forma, exerce uma função social.


Além de “Enquanto Todos Dormem” no teatro, Cazado anunciou recentemente que o longa “Sobre Nós” vai ser distribuído internacionalmente. O artista também está lançando o CD de música eletrônica “Bandits”.