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Página do filme no Facebook permite inserir sua foto em cena do filme
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Velocidade
e quantidade de refilmagens têm aumentado nos últimos anos: “Homem-Aranha” teve
destino semelhante
Na
última quinta-feira (09/03) estreou nos cinemas o filme Kong: A Ilha da Caveira, uma superprodução que reconta – pela quarta
vez, a história do famoso gorila que invadiu os cinemas há 84 anos. Ainda não
vi o filme, então não irei avaliá-lo ou criticar as cenas ou enredo aqui. O
objetivo deste texto é apenas questionar o seguinte fato: precisávamos,
realmente, de um novo filme do Kong?
O
primeiro King Kong foi lançado em
1933, em preto e branco e é, ao lado de filmes como “E O Vento Levou” (1939) e “Branca
de Neve e os Sete Anões” (1937), um dos grandes êxitos do cinema.
A
história, contemporânea para a época, mostra um diretor de cinema em busca de
locações para seu novo filme, quando se depara com a Ilha da Caveira, lar do
gorila. A história, muitos sabem: a jovem atriz, dada como sacrifício ao Kong,
conquista o coração da fera. Ao ser transportado para a cidade, Kong parte em
busca da amada e o resultado é uma das mais belas e tristes cenas da sétima
arte: o gorila é abatido no alto do Empire State, no centro de Nova York. A
última frase do filme é “Não foram os aviões que o mataram. Foi a Bela que
matou a Fera”.
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Cena do filme "King Kong" - 1933 Reprodução |
O
filme recebeu uma continuação, intitulada “O Filho de King Kong”, também de
1933. Anos depois, o gorila ganhou uma versão japonesa e uma versão animada
para a TV. Nenhuma delas, porém, é uma refilmagem da obra original. Isso só
aconteceria em 1976, com um filme que se tornou um clássico do Cinema em Casa (SBT) e da Sessão da Tarde (Globo). O King Kong
dos anos 70 alterou alguns detalhes do original, mantendo-se atento a sua
época: em vez de um navio com uma equipe de filmagens, há um navio petroleiro,
que busca novas fontes de extração. Em vez do Empire State, Kong escala o World
Trade Center. Do mais, o enredo segue semelhante ao original.
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A versão de 1976 foi exibida diversas vezes no Cinema em Casa (SBT) e na Sessão da Tarde (Globo) |
Esse
filme também ganhou uma sequência, dez anos depois: em King Kong 2 (1986), é
revelado que Kong não morreu de sua queda no World Trade Center. Ele fora
resgatado e permanecera em coma por 10 anos. Ao passar por uma delicada
cirurgia, Kong precisa de uma doação de sangue e a médica que cuidou dele,
interpretada pela eterna Sarah Connor, Linda
Hamilton, parte para a selva à procura de um gorila compatível.
Vale
ressaltar que se passaram 43 anos entre a primeira versão (1933) e a segunda versão
(1976) do filme.
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Peter Jakson tentou ser o mais fiel possível ao original mantendo, inclusive, alguns erros. |
Vinte
e nove anos depois, Peter Jackson dirige a terceira versão e a mais próxima da
original: em King Kong (2005), a trama é ambientada em 1933 (ano do filme
original) e Nova York sofre os efeitos da crise iniciada em 1929. Uma equipe de
filmagens parte para uma ilha e encontra Kong. O restante é semelhante ao
original, incluindo alguns “erros” como a quantidade de dedos nas patas dos
dinossauros da ilha...
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Apenas onze anos separam a versão de Peter Jackson desta nova |
Apenas
11 anos se passaram desde a versão de Peter Jackson e a novíssima “Kong: A Ilha da Caveira” (2016 –
lançada no Brasil em 09/03/2017). Onze anos para a história ser totalmente
recontada. De acordo com os produtores e sites especializados em cinema, a
história não é, de fato, uma refilmagem. Ela abordará o “passado” de Kong,
tanto que ele ainda não é considerado o “rei” da ilha. A trama se passa na
década de 1970 e, ao contrário dos outros filmes, 95% do tempo será na ilha,
não na cidade.
A
grande questão, porém, que levantei no título, retorna aqui: precisávamos mesmo
recontar essa história? Como cinéfilo, sou fã dos filmes do King Kong, mas não
poderíamos aguardar mais alguns anos antes de reinventar sua saga? Será mesmo
que não existem novos e bons roteiros, de preferência inéditos, para serem
filmados?
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Em quinze anos, Peter Parker teve sua origem contada três vezes: Homem-Aranha (2002), O Espetacular Homem-Aranha (2012) e Homem-Aranha: De Volta Pro Lar (2017) |
O
caso de King Kong se espelha em diversos outros, como o do famoso herói Homem-Aranha. Entre o filme de Sam Raimi (2002) e o “Espetacular Homem-Aranha” (2012), que
reiniciou a saga do herói, se passaram apenas dez anos. Isso mesmo: dez anos
para se fazer uma refilmagem! Sem contar que entre o “Homem-Aranha” e o “Espetacular
Homem-Aranha” tivemos duas sequências do primeiro, em 2004 e 2007. Ou seja,
entre o último filme da trilogia de Sam Raimi e o primeiro filme da nova série
se passaram apenas cinco anos. Para piorar (ou acelerar mais as coisas) a nova
série já foi abandonada pela estúdio e um novo filme, de uma suposta nova série
já foi anunciado: este ano estreia “Homem-Aranha:
De Volta Para o Lar”. Ou seja, uma nova versão da história do herói apenas
cinco anos após a, até então, “nova versão” ter sido feita. Em menos de vinte
anos, tivemos três origens, com três histórias diferentes para o herói.
Se
nas décadas de 1980 e 1990 o que reinava eram as sequências e, se algumas delas
prejudicaram a qualidade de suas respectivas franquias, o que vemos, a partir
dos anos 2000, é um excesso de refilmagens que, assim como as citadas
sequências, têm prejudicado consideravelmente a qualidade e a variedade dos roteiros
cinematográficos.
O
que nos fica é a impressão de que os cineastas resolveram todos dar “a sua própria
versão” de uma história já contada. Ou seja, “não gostei do filme de 2005. Vou
fazê-lo melhor em 2010”. E um segundo: “Não gostei do que você fez em 2010. Vou
fazer diferente em 2015”. E, assim, perdemos em originalidade, enquanto “ganhamos”
em quantidade. Mas... precisamos mesmo?