Jornalista defende história de Walcyr Carrasco
Desde que estreou em 2017, a atual novela das nove da
Globo, “O Outro Lado do Paraíso” tem
dividido a opinião de críticos televisivos. Com o público, embora não haja
unanimidade, a novela tem tido boa aceitação, prova disso são os expressivos números
da audiência.
“Boa audiência não resume qualidade” – diz constantemente
um dos críticos que mais detona a novela de Walcyr Carrasco na internet. Pode
ser, mas é um dos indicadores mais importantes, já que é a prova de que o
público está assistindo e gostando.
Um cineasta de quem não me recordo o nome no momento
disse certa vez que a opinião do crítico conta, sim, mas entre este e o
público, ele ficaria sempre ao lado do público, já que é este último quem paga
os ingressos. Na TV não é tão diferente: o papel do crítico é importante,
claro, mas é a vontade do público quem conta para o autor e a emissora que
produz determinado produto.
Há vários casos de novelas que não agradavam ao público e
foram alteradas, passando a conquistar uma respeitável audiência. Walcyr
Carrasco, aliás, sabe muito bem como se virar nestas situações. Em 2001, quando
escreveu A Padroeira, fez diversas
mudanças na trama que não havia conquistado os fãs – uma ironia, se pararmos
para pensar que a novela era sobre um dos maiores símbolos do catolicismo em um
país majoritariamente católico. Pois bem, feitas as alterações, a novela, cuja
emissora havia pensado em encurtar seu tamanho, acabou sendo estendida, já que
a produção de sua sucessora, Coração de
Estudante, estava atrasada. A
Padroeira pode ter sofrido o desgaste que toda obra televisiva de grande tamanho
comumente sofre, mas terminou com um saldo positivo.
Já que falei de sua sucessora, Coração de Estudante, vale salientar que ela também teve algumas
alterações feitas para se adequar ao gosto do público e o processo surtiu
efeito.
Enfim, se alguém tem o poder de alterar o rumo de alguma
obra como as novelas, esse alguém é o público, verdadeiro dono do controle
remoto.
Sobre os críticos, vale ressaltar que o papel primordial
deles não é, por incrível que possa parecer a alguns, falar mal! Cabe ao crítico
“traduzir” a obra para o público, ou seja, identificar a linguagem e a
intencionalidade do autor e ajudar o público a compreendê-la. É claro que,
neste contexto, o crítico pode deixar passar a sua impressão sobre determinado
trabalho e tecer elogios ou falar mal de uma situação ou passagem exibida na
obra analisada. O problema é quando o crítico se limita a apenas expor sua
opinião, sem levar em consideração as qualidades do trabalho do autor e, em se
tratando de O Outro Lado do Paraíso,
isso tem acontecido com frequência.
Alguns críticos têm apontado apenas as falhas da novela,
sem levar em consideração os inúmeros méritos dela – o primeiro deles, aliás,
foi o fato de manter e até aumentar a audiência do horário.
Quando um autor de novelas substitui uma trama de
sucesso, ele tem a difícil missão de manter o público saudosista da trama
anterior ligado na nova história. A Força
do Querer havia conseguido trazer um público que havia ficado escasso após
as problemáticas Velho Chico e A Lei do Amor. Quando A Força... terminou, O Outro Lado... estreou com o horário em
alta e, mesmo tendo percalços já na primeira semana – o 3º capítulo teve que
ser remanejado de quarta para quinta-feira pois a Globo estava exibindo uma
importante votação na Câmara dos Deputados – conseguiu manter o público
interessado nas desventuras de Clara e demais personagens.
Alguns críticos reclamaram também de que O Outro Lado... não tem causado nas
redes sociais o mesmo burburinho de sua antecessora. Esqueceram, porém, que,
assim como “boa audiência não é sinônimo de qualidade”, o fato de “causar
burburinho na internet” não é sinônimo de audiência e vice-versa. E,
principalmente, que uma obra para ser boa não precisa, necessariamente, causar
polêmica ou tratar de temas espinhosos.
A Próxima Vítima,
um dos maiores êxitos da década de 1990, era centrada puramente em uma trama
policial. A novela trouxe, claro, algumas abordagens sociais, como a questão
dos menores abandonados e da homossexualidade de dois personagens, entre
outros, mas isso, porém, não passou nem perto do enfoque central que eram os
misteriosos assassinatos.
A atual reprise do “Vale a Pena Ver de Novo”, Celebridade, também trouxe uma
miscelânea de assuntos que acabaram desembocando no mais tradicional “Quem Matou?”.
A vítima da vez era Lineu Vasconcelos e seu algoz... bem, assistam à reprise! Celebridade também tratou do alcoolismo
e outros temas, mas seu enfoque não era esse.
Assim, vale repetir, uma novela não precisa trazer temas
polêmicos para ser boa e lembrada. Vamp,
de Antônio Calmon e Uga-Uga, de
Carlos Lombardi, não fizeram praticamente nenhum merchandising social e conquistaram seus respectivos públicos na
década de 1990 e no começo da década de 2000. Vamp, aliás, tratava de um tema pouco comum na TV brasileira:
vampiros! Uga-Uga, embora fosse mais
realista, causou polêmica por outros motivos: o excesso de nudez e insinuação
sexual em pleno horário das 19h. As duas, contudo, fizeram sucesso simplesmente
por seus roteiros.
A impressão que se tem com alguns críticos é que eles
esqueceram de que as novelas tem, assim como o cinema, literatura, teatro ou
música, o papel principal de entreter e que o merchandising social, embora seja muito bem-vindo, é um acréscimo
dado à trama e não o seu objetivo final.
Imagine os críticos de hoje comentando, no começo do
século XX, o lançamento de Dom Casmurro,
de Machado de Assis: “Mas é um absurdo
esse livro. Onde já se viu lançar uma dúvida dessas sobre o leitor e não dar
mais explicações sobre a idoneidade – ou não – de Capitu?” ou ainda: “E cadê os temas sociais que não estão
inseridos neste livro?” E por aí vai...
Pois é. Alguns críticos estão mais preocupados em
achincalhar a obra de Walcyr Carrasco do que tentar aceitar e entender o
sucesso da novela. Não é porque A Força do
Querer trouxe temas importantes como a transexualidade, que O Outro Lado precisa abordar o mesmo
tema. Não é porque Amor à Vida,
também de Carrasco, trouxe um relacionamento estável entre dois homens, que
lutavam para adotar uma criança, que O
Outro Lado... precisa dar o mesmo enfoque ao tema da homossexualidade. Cada
história é uma história.
Aliás, os mesmos críticos que reclamam da falta de
elementos de outras tramas em O Outro
Lado... reclamam da repetição de ideias de Walcyr Carrasco na atual novela.
Ora, reclamar que um autor repita suas ideias entre uma novela e outra chega a
ser risível. Cada autor tem um estilo e tal estilo costuma ser reutilizado em
diversas obras. O já citado Machado de Assis tinha como marca de seus
protagonistas a obsessão: Bentinho era obcecado por Capitu, Brás Cubas era
obcecado para ficar famoso, Quincas Borba tornara-se obcecado por sua filosofia
de vida e o psiquiatra de O Alienista
tornou-se tão obcecado por seu trabalho que, no fim, tornou-se o único interno
de seu próprio hospício.
Em novelas, isso é mais comum ainda: Desde meados da
década de 1980, que Manoel Carlos traz uma Helena como protagonista de suas
histórias. Como se não bastasse o nome, a atriz Regina Duarte defendeu o título
três vezes: História de Amor (1995), Por
Amor (1197) e Páginas da Vida (2006).
Outra coisa curiosa nas novelas de Maneco são os títulos: História de Amor e Por Amor;
Laços de Família e Em Família; Páginas da Vida e Viver a
Vida... repetição simples ou estilo do autor?
Com João Emanuel Carneiro, o estilo se dá pela
desconstrução. Em suas novelas, há sempre uma família rica, aparentemente
levando uma vida confortável, que se torna alvo de alguém invejoso que, após
uma série de golpes, assume o controle dos bens de tal família. Com algumas
variações, esse foi o mote central de Da
Cor do Pecado (2004), Cobras e Lagartos (2006), A Favorita (2008), Avenida
Brasil (2012) e A Regra do Jogo (2015). Aliás, uma cena que se tornou
marcante na obra de João Emanuel Carneiro é a destruição que o vilão proporciona
ao tomar posse dos bens de seus rivais. Leona (Carolina Dieckman), ao tomar
posse da Luxus em Cobras e Lagartos,
inicia um ritual de destruição da loja de luxo, que culmina com um incêndio no
local. Flora (Patrícia Pillar), ao comprar o rancho que por décadas pertencera
aos Fontini em A Favorita, começa a
quebrar os vasos, simbolizando a ruptura com os antigos moradores.
Ainda em se tratando de estilos Glória Perez, por vezes,
abrangeu a cultura de dois – ou mais – países em suas tramas: O Clone (2001) foi focada no diálogo
Brasil-Marrocos; América (2005)
mostrava a ligação Brasil-EUA; Caminho
das Índias (2009) era centrada na história de personagens que transitavam
entre Brasil e Índia passando, por vezes, pelos EUA. Salve Jorge fechou, por enquanto, o ciclo internacional de Perez,
sendo focada nas culturas de Brasil e Turquia. A bem-fadada A Força do Querer, embora não tenha
explorado culturas internacionais, mostrou as diferenças de dois pontos do
Brasil: o sudeste e o norte do país.
Com Benedito Ruy Barbosa, fomos apresentados a um Brasil
bem regionalista. Tramas como Renascer,
O Rei do Gado e a já citada Velho Chico, mostravam o interior do
país e eram focadas, basicamente, no homem do campo. Há ainda a interferência
italiana nas obras do autor.
Por fim, criticar Walcyr Carrasco por “repetir ideias” em
sua novela seria o mesmo que desconsiderar tudo o que foi feito pelos autores
citados nos parágrafos acima e dizer que tais repetições seriam erros – o que
não acredito que seja mesmo - exclusivos de Carrasco.
Em relação ao autor da novela das nove, vale salientar
que seu estilo começa pelo jogo de palavras usado nos títulos: geralmente
baseados em ditados populares, suas histórias passam da percepção comum do
cotidiano para temas mais profundos. São exemplos de títulos com esses jogos de
palavras O Cravo e a Rosa (2000),
Chocolate com Pimenta (2003), Alma Gêmea (2005), Sete Pecados (2007), Caras
& Bocas (2009), Morde & Assopra (2011), Verdades Secretas (2015) e,
agora, O Outro Lado do Paraíso. Para
entendermos a obra Carrasquiana, precisamos começar a análise pelo título: em
todas as obras citadas acima há a existência de um paradoxo que será
devidamente destrinchado no decorrer dos seus capítulos.
Atentando-se, basicamente, a O Outro Lado do Paraíso, vemos, novamente, essa dicotomia de
sentidos que enriquecem as obras de Walcyr Carrasco. A palavra Paraíso, aqui, pode ter dois sentidos: o
primeiro é a própria denotação de “paraíso” como lugar sagrado, céu. Como me
disse há alguns dias a cantora Marli Maciel, o outro lado do paraíso, ou seja,
seu oposto é o próprio inferno. E não foi o “inferno” que Clara experimentou
nos anos de confinamento no hospício? Além disso, Elizabeth, com sua falsa
morte, e agora os mineiros soterrados não estão experimentando um pouco do
inferno?
Em outra conotação, podemos inferir como “paraíso” o
cenário em que se passa a trama: as belas paisagens do Tocantins são como um
pedaço do paraíso na terra e, no entanto, o que se mostra na novela é o outro
lado disso: o lado ruim de pessoas ruins que tramam para conseguirem se dar bem
à custa de tudo e de todos. Ou seja, Walcyr está mostrando aqui o outro lado
daquele lugar tão bonito: o lado perverso formado pelas pessoas perversas,
representadas na história por Sophia, pelo juiz, pelo delegado e tantos outros.
Há uma menção a este “lado ruim” já na abertura, quando a natureza é mostrada
às avessas com a água voltando para dentro da fonte ou a cachoeira que sobe, em
vez de cair. Ao fim da abertura, a paisagem paradisíaca é transformada em uma
paisagem árida, queimada, sombria, simbolizando, assim, o outro lado...
Clara, personagem de Bianca Bin experimentou esse outro
lado e voltou para se vingar. Esse é o mote da trama. Algo comum no universo
carrasquiano e, nem por isso, pobre: Ana Francisca de Chocolate com Pimenta foi humilhada na juventude, voltou poderosa e
disposta a se vingar. No meio da vingança, sofre um duro golpe e perde tudo,
tendo que recomeçar do zero. O mesmo está para acontecer com Clara e o mesmo
aconteceu com outras heroínas de Walcyr: Cecília penou para viver seu amor com
Valentim em A Padroeira. Catarina
lutou para se impor em uma sociedade machista e, ao mesmo tempo, viver seu amor
com Petruchio em O Cravo e a Rosa e
Serena teve que se adaptar a uma nova vida para entender sua missão em Alma Gêmea. Todas foram da glória ao
caos e de novo à glória em suas tramas.
Outro ponto positivo nas obras de Walcyr é que ele nunca
termina em um lugar comum. Denis, personagem de Marcos Pasquim em Caras & Bocas, era um sujeito boa
praça que se deixa levar pela fama e passa a falsificar quadros. A maioria dos
autores terminaria a novela no ponto em que ele é desmascarado e preso.
Agradaria ao público e aos críticos com sua justiça! Carrasco, porém, preferiu
explorar um lado avançado do personagem: ele é preso, paga por seus crimes e
volta à sociedade para ter uma nova chance.
O mesmo acontece com Félix, de Mateus Solano em Amor à Vida: ele foi o pior vilão da
história, mas não teve seu encerramento decretado na cena em que foi desmascarado:
foi além, desceu ao inferno e purgou todo o caminho de volta, com direito a
final feliz.
Não que eu defenda veementemente a ideia de uma inversão
de papeis em toda obra, com mocinho virando vilão e vice-versa, mas, para fins
de entretenimento, isso é ótimo para livrar a novela de ser repetitiva.
Além disso, tal fato torna os personagens de Walcyr mais
humanos: os protagonistas não são 100% bom ou 100% mau, mas moldam seu caráter
de acordo com as necessidades. E, na vida real, não é assim que acontece?
É claro que há, também, os genuinamente bons ou maus. No
caso de O Outro Lado do Paraíso,
personagens como Sophia, o juiz e o delegado preenchem o requisito dos
vilões-mor. Para fins de dramaticidade, isso é essencial e Walcyr sabe muito
bem como fazê-lo.
Em relação a possíveis erros em O Outro Lado... eles não são maiores ou piores do que os de suas
antecessoras ou de qualquer obra extensa como uma novela ou série de TV que se
arraste por meses ou temporadas. A própria Glória Perez teve que explicar que era
possível, sim, que Ivana estivesse grávida de Cláudio, já que eles haviam feito
sexo depois da passagem de tempo e não antes – o fato gerara confusão em parte
do público de A Força do Querer.
Também Manoel Carlos teve que usar números estatísticos para justificar a
rápida gravidez de Helena para salvar Camila em Laços de Família e por aí vai. Se querem erros mais explícitos na
trama de Carrasco, posso citar a capa de It,
de Stephen King, que Lívia lê nos primeiros capítulos. A novela se passava em
2007 e tal capa pertence a uma edição lançada em 2013. Isso diminui a qualidade
da novela? Nunca!
Portanto, dizer que O
Outro Lado... é uma obra menor por conta de erros, não justifica a crítica
em si, é apenas uma desculpa para expor o ego inflado do crítico. Um dos
críticos teve o desplante de dizer essa semana que a personagem de Juliana
Caldas foi “reduzida a uma versão tosca de Escolinha
do Professor Raimundo”. Ora, em nenhum ponto as cenas de Estela como
professora, a fizeram uma personagem pior ou desvalorizada. Ao contrário, coube
a Estela uma das melhores e mais bonitas missões da novela: alfabetizar os
adultos que não tiveram essa oportunidade na infância (olha o Walcyr fazendo merchandising social sem precisar lançar
mão do estardalhaço). Se o crítico não soube enxergar a nobreza em se
alfabetizar prostitutas e mineradores desvalidos, o problema está na percepção
dele e não do autor.
Outra crítica feita outro dia, comparava a atual novela
das nove com Malhação: Viva a Diferença.
Um crítico limava a obra de Walcyr e exaltava a trama infanto-juvenil.
Realmente, Cao Hamburger fez um trabalho majestoso com Malhação, mas comparar as duas tramas
apenas por serem contemporâneas, seria o mesmo que comparar o livro com o
filme. Não dá! São obras diferentes para públicos diferentes. Embora alguns
temas sejam semelhantes – a homossexualidade abordada em Malhação e O Outro Lado...,
por exemplo – o enfoque será sempre diferente. Qual deles está certo e qual
deles está errado? Nenhum! São apenas pontos de vista diferentes sobre o mesmo
tema. Não havendo preconceito ou incitação ao ódio, não há problema na
discordância do tema.
E se é para falar em pequenos erros, a finada temporada
de Malhação cometeu, ao menos, três
deles em seus derradeiros capítulos: o primeiro deles foi no capítulo exibido
em 14 de fevereiro: durante a prova do Enem, o relógio na parede da sala de
aula marcava 10h44, porém, a prova do Enem começa a ser aplicada após o
meio-dia! No mesmo capítulo, perto do fim, o personagem Roney decide ensinar
Tato, que recém-completara 18 anos, a dirigir. Há três problemas aqui: o
primeiro é que Roney não era instrutor de autoescola e nem o carro era
apropriado para tal função. O terceiro problema é que a última cena do capítulo
mostra Tato dirigindo por uma movimentada via de São Paulo durante um razoável
período de tempo. Ora, qualquer um em sã consciência sabe que, para se aprender
a dirigir é necessário, antes, passar por aulas de legislação e, só então,
começar as aulas de direção com profissional e veículos capacitados. Embora
aconteça na prática, qualquer caso que fuja a essa regra pode ser considerado
crime de trânsito e a novela, que até então prezara por um discurso politicamente
correto de seus protagonistas, mostrou a cena e não criou nenhuma punição para
os envolvidos nesta “pequena” infração. Outro erro foi o final de Malu: ela
forjou notícias falsas – em uma época que tal prática é constantemente refutada
por veículos de comunicação –, pôs em risco as vidas de Benê e Dóris e...
termina impune viajando para fora do país. A fuga de Reginaldo Faria em Vale Tudo (1988/89) tornou-se icônica,
mas usar tal argumento em uma novela voltada para o público infanto-juvenil
parece reforçar a ideia de que o crime compensa. O famoso “dá nada pra mim” tão
difundindo entre adolescentes infratores.
Ainda na linha de “repetição de ideias” em que um crítico
reclamou do segundo golpe da barriga sofrido pelo personagem Bruno (Caio Paduan)
em O Outro Lado do Paraíso, o fato
também foi usado repetidamente em Viva a
Diferença: Tato foi pai duas vezes sem ter sido! A primeira, quando assumiu
o filho de Keyla, apenas porque quis – Ok, ele era um bom moço – a segunda,
quando K2 mentiu que estava grávida. Se não houve golpe da primeira vez, houve
da segunda...
O mesmo pode ser dito das duas falsas mortes dos amados
de Maria Vitória em Tempo de Amar:
ela se envolveu com Vicente, pois achou que Inácio estava morto e agora pode se
envolver com Inácio, pois acha que Vicente sucumbiu ao acidente no mar... Que
coisa, não?
Tais erros, porém, diminuíram a qualidade e os avanços
propostos por Viva a Diferença? Não!
Podem ter tido seus pesos, mas não abafou o mérito de Cao Hamburger. O mesmo
vale para Alcides Nogueira e Tempo de
Amar.
Assim,
percebemos que lapsos textuais, de continuidade ou de situações são propensos a
acontecer com qualquer autor, que dirá com o mais produtivo da Globo.
Contratado em 2000 com O Cravo e a Rosa,
Walcyr Carrasco tem emplacado uma novela a cada um ano e meio praticamente. Já
são dezoito anos na emissora e uma coleção de bons títulos, que percorreram os
horários das seis, sete, nove, onze, faixa das minisséries e, claro, o Vale a Pena Ver de Novo, afinal, se tem
uma coisa que Walcyr sabe fazer é escrever uma boa história, cheia de
reviravoltas, de confrontos entre protagonistas e de tipos que conquistam o
público.
São
deles, aliás, algumas das cenas mais emblemáticas da teledramaturgia nacional:
de Xica da Silva desfilando nua na Manchete a Félix e Niko dando o primeiro beijo
gay em horário nobre da Globo, passando por Bernadete se descobrindo Bernardo
na faixa das 18h, entre tantas outras...
Tais
cenas mostram a inteligência, versatilidade e a aproximação do autor com seu
público. Então, se o público está feliz, cabe a nós, os críticos, engolirmos o
orgulho e aceitar que, sim, Walcyr é um dos maiores e melhores autores de sua
geração. É claro que nem todos precisam gostar da obra de um determinado autor,
mas desconsiderar seu histórico e seus pontos positivos para apenas falar mal
do que não se gosta, é descambar para a simples e boba perseguição. E isso não
é nem nunca foi papel do crítico.
***
Para se inteirar mais sobre novelas, sugiro as colunas de
Duh Secco no site TV História. Lá você encontra curiosidades, fatos sobre a TV críticas
inteligentes.