Comédia
de Sileide Lopes e Douglas Leite “bota o dedo na ferida” e critica o famoso “jeitinho
brasileiro”
Duas mulheres descobrem que têm algo em comum – e
descobrem isso da pior forma possível. Este é o ponto de partida da peça Malandro é malandro, mané é mané, que
encerra sua temporada no Teatro Alterosa (avenida Assis Chateuabriand, 499, Floresta)
hoje.
Escrita por Sileide Lopes e Douglas Leite, dirigida por Atenágoras
Gandra e estrelada por Sileide Lopes e Edina Quaresma, a peça usa e abusa dos vários
“jeitinhos” que o brasileiro usa para se
dar bem na vida e escancara, sem medo, os vários tipos de corrupção existentes
– do alto escalão político de Brasília, ao “inocente” esconder a poeira em baixo
do tapete (essa cena acontece de modo literal na peça).
Corajosa, audaciosa e, por isso, eficaz. Assim pode ser
definida a montagem. As sacadas de humor que misturam os elementos ficcionais
do texto aos eventos verídicos que estamos acostumados a ver diariamente dão o
tom certo que o roteiro pede.
Entre um ato e outro, vídeos emendam a história com
pérolas da política brasileira, que vão desde Tiririca apresentando Brasília
até Dilma Rousseff saudando a mandioca, passando, claro, por Aécio Neves se
dizendo íntegro e honesto, sem falar em uma galeria medonha de candidatos –
todos reais. Os produtores acertaram em cheio ao usar trechos da propaganda
política obrigatória!
Fotos de divulgação: Olívia Porto |
Em Malandro é
malandro, mané é mané; acompanhamos a história de duas mulheres tão
diferentes, mas que, por um artifício do destino, descobrem ter algo muito mais
em comum do que qualquer uma desconfiaria. Juntas, começam a galgar uma longa
caminhada rumo ao sucesso e, para isso, têm que pôr em teste a própria
dignidade, a própria honestidade e mostrar que podem sim, ser pessoas de bem,
em um Brasil cercado por tanta ilegalidade.
A peça vai muito além do riso. Ela propõe uma reflexão
sobre nossos atos: seja em relação à política, ao trabalho, à amizade ou a
qualquer outra situação em que o nosso caráter é posto em xeque. Um desafio e
tanto para qualquer brasileiro.