domingo, 22 de novembro de 2015

“Malandro é malandro, mané é mané” acerta ao estampar mazelas da política brasileira

Comédia de Sileide Lopes e Douglas Leite “bota o dedo na ferida” e critica o famoso “jeitinho brasileiro”

            Duas mulheres descobrem que têm algo em comum – e descobrem isso da pior forma possível. Este é o ponto de partida da peça Malandro é malandro, mané é mané, que encerra sua temporada no Teatro Alterosa (avenida Assis Chateuabriand, 499, Floresta) hoje.
            Escrita por Sileide Lopes e Douglas Leite, dirigida por Atenágoras Gandra e estrelada por Sileide Lopes e Edina Quaresma, a peça usa e abusa dos vários “jeitinhos”  que o brasileiro usa para se dar bem na vida e escancara, sem medo, os vários tipos de corrupção existentes – do alto escalão político de Brasília, ao “inocente” esconder a poeira em baixo do tapete (essa cena acontece de modo literal na peça).
            Corajosa, audaciosa e, por isso, eficaz. Assim pode ser definida a montagem. As sacadas de humor que misturam os elementos ficcionais do texto aos eventos verídicos que estamos acostumados a ver diariamente dão o tom certo que o roteiro pede.
            Entre um ato e outro, vídeos emendam a história com pérolas da política brasileira, que vão desde Tiririca apresentando Brasília até Dilma Rousseff saudando a mandioca, passando, claro, por Aécio Neves se dizendo íntegro e honesto, sem falar em uma galeria medonha de candidatos – todos reais. Os produtores acertaram em cheio ao usar trechos da propaganda política obrigatória!
Fotos de divulgação: Olívia Porto
            Em Malandro é malandro, mané é mané; acompanhamos a história de duas mulheres tão diferentes, mas que, por um artifício do destino, descobrem ter algo muito mais em comum do que qualquer uma desconfiaria. Juntas, começam a galgar uma longa caminhada rumo ao sucesso e, para isso, têm que pôr em teste a própria dignidade, a própria honestidade e mostrar que podem sim, ser pessoas de bem, em um Brasil cercado por tanta ilegalidade.
            A peça vai muito além do riso. Ela propõe uma reflexão sobre nossos atos: seja em relação à política, ao trabalho, à amizade ou a qualquer outra situação em que o nosso caráter é posto em xeque. Um desafio e tanto para qualquer brasileiro.