quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Hitchcock Essencial: Sabotador



Alfred Hitchcock pode ser visto de relance, próximo a uma banca de revistas, aos 64 minutos do filme
Reprodução

Assim como em “Assassinato”, a trama de “Sabotador” começa com uma falsa acusação; a partir daí, um homem faz uma saga pelos EUA para provar sua inocência

            Robert Cummings estrela este filme já pertencente à fase americana de Alfred Hitchcock lançado em 1942. Durante a Segunda Guerra Mundial, Barry Kane (Cummings) trabalha em uma fábrica de aviões em Los Angeles e testemunha um incêndio no local. Um amigo de Barry, também funcionário da fábrica, tenta controlar o fogo quando é vítima de uma violenta explosão. Não demora muito para a perícia descobrir que o extintor usado havia sido sabotado: em vez de água, havia gasolina em seu interior. A explosão causa a morte do amigo de Kane e torna o rapaz o principal suspeito do crime.

            Disposto a provar sua inocência, Kane parte em uma jornada pelo país à procura de Frank Fry (Norman Lloyd), homem misterioso com quem havia cruzado mais cedo e de quem recebera o extintor fatal. A única pista que Kane dispõe para encontrar Frank é um envelope que ele pegara no refeitório, quando tivera seu encontro com o verdadeiro assassino.

            Paralelo a isso, a polícia e a imprensa passam a divulgar informações sobre Barry, que passa a ser visto como inimigo nº 01 do país. Em sua busca, o rapaz chega a uma casa praticamente isolada, onde vive um homem cego, que percebe o verdadeiro caráter de Barry. A partir daí, a neta deste homem, a jovem Pat Martin (Priscilla Lane) passa a acompanhá-lo – inicialmente, a contragosto – em sua busca por justiça.

 Barry Kane recebe a ajuda de um homem que vive isolado e acredita no caráter do rapaz
Universal/Divulgação

            Hitchcock reserva bons momentos ao espectador durante a projeção de Sabotador, mostrando um pouco da rotina da classe trabalhadora dos EUA, em contraponto à rotina da classe alta: no caminho de Barry Kane cruzam caminhoneiros, artistas de circo e milionários com suas mansões e propriedades gigantescas. Cada um, a seu modo, ajudará ou atrapalhará os planos do rapaz em provar sua inocência.

            Em um determinado momento, o rapaz fica muito perto de toda a verdade, mas como conseguir prová-la com o pouco poder que tem? A saga de Barry e Pat, que a essa altura já se apaixonara por ele, termina em Nova York, numa sequência eletrizante na Estátua da Liberdade.

A épica cena final, na Estátua da Liberdade
Universal/Divulgação

            Vale a pena se atentar para uma tomada especial exibida segundos antes: enquanto Fry pega um táxi rumo à estátua, um barco pode ser visto afundando. Alfred Hitchcock filmou o naufrágio do Normandie no píer de Nova York e usou as imagens em seu filme.

O naufrágio real do Normandie foi filmado por Hitchcock e usado no filme Sabotador, apesar do pedido da Marinha Americana para a cena ser excluída
Reprodução

            Em meio à Segunda Guerra Mundial as suspeitas do naufrágio recaíam sobre os nazistas; enquanto outras fontes sugeriam ser a máfia, pressionando assim o Governo dos EUA a contratá-la para se proteger do próprios nazistas. Independente de quem tenha realmente afundado o navio, o fato é que mostrar um naufrágio real em um filme poderia tornar a situação do país ainda mais delicada, em meio ao caos que imperava no mundo naquele ano. A Marinha Americana pediu que a cena fosse excluída, mas Hitchcock a manteve na edição final.

            O fato é que Sabotador consegue recriar o clima de paranoia coletiva muito comum em épocas de tensões extremas: o atentado a Pearl Harbor havia acontecido em dezembro de 1941, ainda quente na memória americana. Todo o enredo traz elementos de suspeita, mistério, desde a primeira cena, com direito ao vulto de um homem sobre um fundo branco. Enfim, Sabotador também pode ser considerado como um típico filme de espião, embora não se prenda somente a esse rótulo.

 
Robert Cummings e Priscilla Lane não foram as primeiras opções de Hitchcock para o filme, mas a força do estúdio prevaleceu sobre a escolha
Universal/Divulgação
            De acordo com o crítico Humberto Pereira da Silva, o próprio diretor ficou descontente com alguns rumos que o filme tomou: alguns pontos de sua liberdade criativa foram tolhidos, incluindo aí a escolha de atores. Cabe ressaltar, porém, que quando se trata em defesa da liberdade e da democracia, Sabotador continua como um dos filmes mais atuais do cinema hitchcockiano.

            Importante: Não confundi-lo com Sabotagem, também de Hitchcock, gravado em 1936, na Inglaterra.

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 Universal/Divulgação
Ficha Técnica:
Título Original: Saboteur
Ano de Produção: 1942
País de Produção: EUA
Roteiro Original: Peter Viertel
                               Jon Harrison
                               Dorothy Parker
Assistente de Direção: Fred Frank
Direção de Arte: Jack Otterson
Direção de Som: Bernard B. Brown
Edição: Otto Ludwig
Elenco: Robert Cummings – Barry Kane
              Priscilla Lane – Pat Martin
              Otto Kruger – Tobin
              Alan Baxter – Freeman
              Clem Bevans – Neilson
              Norman Lloyd – Fry
              Alma Kruger – Sra. Sutton
              Vaughan Glazer – Sr. Miller
              Dorothy Peterson – Sra. Mason

Situação: Disponível em DVD e BD pela distribuidora Universal. Também em BD no box Hitchcock – A Obra Prima, pela distribuidora Universal.