terça-feira, 1 de agosto de 2017

Hitchcock Essencial: Assassinato

Hitchcock faz sua aparição (no canto esquerdo da imagem) em “Assassinato”
Reprodução

Filme lançado em 1930 inova ao apostar no som para ajudar a contar a história; trama foi refilmada pelo próprio Hitchcock, no mesmo ano, na Alemanha

Agosto é um mês especial para os cinéfilos: há 118 anos, no dia 13 desse mês, nascia em Londres o cineasta que mais tarde ficaria conhecido como o Mestre do Suspense: Alfred Hitchcock. Mas Hitchcock foi mais: inovador, criou novas possibilidades para o cinema, seja no campo tecnológico, da narrativa, da edição e montagem ou do uso da trilha. A partir de hoje, o site Blog APS fará uma retrospectiva com treze filmes do diretor. Embora seja uma amostra pequena da vasta filmografia hitchcockiana, que conta com mais de 50 obras, os filmes escolhidos exploram as várias facetas do diretor ao longo dos anos.

Para começar, um dos filmes mais emblemáticos do começo da carreira de Hitchcock: Assassinato (Murder!). O filme foi produzido ainda na fase inglesa do diretor, em 1930.

Embora conhecido por clássicos como Psicose (1960), Os Pássaros (1963) entre outros, o começo da carreira de Hitchcock é um dos seus períodos mais férteis. Os registros mostram que em 1927, por exemplo, Alfred Hitchcock produziu três longas: O Ringue, Downhill e Vida Fácil. O mesmo aconteceria em 1929. Esse ritmo de dois a três filmes por ano continuaria até 1941, já na fase americana do diretor.

Assassinato não foi o primeiro filme falado do diretor. O fato aconteceu com a produção do ano anterior Chantagem e Confissão, mas vários especialistas concordam que foi em Assassinato, que Hitchcock pôde explorar toda a potencialidade do cinema falado disponível naquele começo de década.

Já nos créditos iniciais, a 5ª Sinfonia de Beethoven pode ser ouvida, conferindo ao filme o ar de mistério que ele precisava. Com uma abertura curta (cerca de 80 segundos), o filme começa com um relógio. O plano muda para uma pequena vila. Um grito corta a noite, seguido de um gato passando próximo a um muro e latidos de cães tomam que tomam conta da cena, enquanto pessoas saem às janelas de suas respectivas casas.

Alarmadas, elas seguem até uma pensão, na qual se hospeda a atriz Diana Baring (Norah Baring). Lá, todos veem a jovem paralisada diante do cadáver da também atriz Edna Durce. Como as duas não se davam bem, e Diana era a única presente no momento do crime, a suspeita do assassinato recai sobre ela, que é levada ao júri e condenada. Um dos jurados, porém, começa a suspeitar de que ela é inocente e passa a fazer uma investigação paralela, para tentar salvar a moça da execução.
Diana, catatônica, observa o corpo de sua colega de cena
Reprodução

        Além da 5ª Sinfonia, Tristão e Isolda, de Wagner, pode ser ouvida em alguns momentos cruciais da trama. Hitchcock adaptou Assassinato da peça teatral Enter, Sir John, de Clemence Dane e Helen Simpson. Para a adaptação, ele contou com a colaboração de Walter Mycroft.

No mesmo ano em que produziu Assassinato na Inglaterra, o cineasta viajou para a Alemanha para trabalhar na versão local do filme, que ganhou o título de Mary. Cerca de 26 minutos menor que o original, Mary deixa de lado aspectos importantes presentes na versão inglesa.
Os jurados se reúnem para analisar o caso
Reprodução

Assassinato foi tido pelo próprio Hitchcock como seu primeiro e único whodunit, expressão que significa “quem fez isso?” ou, em outras palavras, o famoso “quem matou?”, artifício comum em romances policiais. O filme tem ainda a famosa aparição do diretor, um hábito que começara em O Inquilino Sinistro e se estenderia até sua última obra. No longa, é possível ver o diretor caminhando apressado por volta dos 60 minutos de filme. Vale a pena se atentar também para o homossexualismo velado em um dos personagens. O diretor voltaria ao tema em produções como Festim Diabólico e Psicose.

Por fim, Assassinato é um dos primeiros filmes de Hitchcock a espalhar “pistas”, de modo que o público se sente “preso” à história e tenta decifrar, junto aos personagens, os enigmas da trama. O drama e o suspense crescem conforme a história avança, gerando o clímax, quando a identidade e o motivo do assassino são revelados, a menos de cinco minutos do fim.
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Capa do filme
Continental/Divulgação















Ficha Técnica:
Título Original: Murder!
Ano de Produção: 1930
País de Produção: Inglaterra
Inspirado na peça: Enter, Sir. John
Adaptado por: Alfred Hitchcock e Walter Mycroft
Assistente de Direção: Frank Mills
Direção de Arte: J. F. Mead
Cenário: Alma Reville
Som: Cecil V. Thornton
Edição: Rene Marrison sob a supervisão de Emile de Ruelle
Elenco: Herbert Marshall – Sir. John Menier
              Norah Baring – Diana Baring
              Phyllis Konstam – Doucie Markham
              Edawrd Chapman – Ted Marcham
              Miles Mander – Gordon Druce
              Esme Percy – Handel Fane
              Donald Calthrop – Ion Stewart

Situação: Disponível em DVD pela distribuidora Continental