segunda-feira, 10 de abril de 2017

Linchamentos Seletivos: Por que salivamos de raiva em um caso e aplaudimos outro?


Reprodução da internet

PT, PSDB, Mayer, Marcos, Bruno e as atitudes dos brasileiros em relação aos acontecimentos das últimas semanas

As últimas semanas vêm sendo conturbadas. Em todos os sentidos. Tanto que, como autor desse blog 95% dedicado à cultura, passei a explorar outros temas, digamos, mais desconfortáveis. Um deles é a quantidade de erros que assistimos e deixamos passar, apenas por ser mais cômodo. Antes de chegar ao assunto principal deste artigo, porém, quero esclarecer que não sou, atualmente, a favor ou simpatizante de nenhum partido político e que sou contra preconceitos e agressões. Dito isso, vejamos como são prejudiciais para todos, certos “linchamentos” seletivos que vivenciamos nos últimos dias:
Para começar, relembro uma conversa que tive, dias desses, com um amigo. Ele defende o Partido dos Trabalhadores (PT) com unhas e dentes e não admite – nunca – que o partido tenha cometido um único erro sequer. Semana passada, esse amigo criticava, mais uma vez, as privatizações que o FHC fez na década de 1990 e a privatização do autódromo de Interlagos. Lembrei a esse amigo que o governador Fernando Pimentel (PT-MG) também pretende vender o terreno onde fica a Cidade Administrativa e passar a pagar aluguel dos prédios. Sabem qual foi a resposta dele? “Quando temos algumas dívidas, é necessário abrir mão de alguns bens”. Ou seja, quando a privatização vem de qualquer outro partido, é um absurdo, quando vem de alguém ligado ao PT, é necessária...
Não defendo aqui as privatizações do FHC ou de Interlagos, mas também critico a venda da Cidade Administrativa. Afinal, o terreno e os prédios pertencem ao estado. Por que vendê-los agora e, amanhã, passar a pagar aluguel pelo lugar? Os políticos do PT – e seus simpatizantes – que tanto criticam esse tipo de negócio, estão fazendo exatamente a mesma coisa. Por que não protestar contra isso?
Na mesma semana, um fato chocou o Brasil (será que “chocou” mesmo?): uma denúncia de uma figurinista da Globo de que o ator José Mayer a havia assediado. O ator confessou, foi suspenso da emissora e a internet veio abaixo com palavras de ordem, entre as quais, a principal frase era: “Mexeu com uma, mexeu com todas!”. Será mesmo? Logo na sequência, como num filme de horror, o participante do Big Brother Brasil, entrou numa espiral de agressões psicológicas a vários participantes da casa, entre eles, três mulheres: Ieda, Marinalva e, principalmente, Emilly. Embora não tenha havido agressão física por parte de Marcos, as palavras, o tom de voz e a pressão negativa exercida por si só valiam a expulsão.
E, mais uma vez, a internet veio abaixo gritando palavras de ordem, pedindo a exclusão do participante. A produção do programa chamou, separadamente, os dois participantes (Emilly e Marcos) e explicou que o relacionamento dos dois estava ultrapassando os limites considerados normais para o programa. Emilly optou por não formalizar uma queixa contra Marcos e os dois seguiram na competição. E o público que tanto clamava por justiça? Deixou passar duas oportunidades, na mesma semana, de eliminar o participante machista e agressor. Na terça-feira, o eliminado foi Ilmar. No domingo, a eliminada foi Marinalva com – pasmem – mais de 70% dos votos!
Não defendo, em nenhum momento, a atitude de José Mayer. Se ele assediou, deve pagar, sim. Porém, se ele errou e está pagando, por que não infligir a mesma repulsa ao participante do reality show? Por que não exercer o poder do voto e tirá-lo da competição, em vez de apoiá-lo e dar mais uma oportunidade a ele de fazer novas agressões?
Paralelo a isso tudo, o goleiro Bruno – sequestrador, assassino e ocultador de cadáver – voltou a jogar futebol. Sob os aplausos calorosos da torcida do Boa Esporte...