DESCENTRALIZAÇÃO
Antônio Pedro de
Souza
Vivemos um momento diferenciado em nossa vida em
sociedade. Nos últimos dez anos, percebemos de maneira lenta, porém constante,
uma descentralização. Seja no poder, na educação, ou em coisas corriqueiras do dia-a-dia.
É um processo novo, inverso do que ocorreu em décadas
passadas, em que a tendência era centralizar. Peguemos como exemplo nossas
cidades: o comum, na metade do século XX, era levar tudo para o centro dos
municípios, fazendo com que os bairros mais afastados tivessem a utilidade – e
a característica – de dormitórios. Escolas, lojas, hospitais e toda uma gama de
serviços passou a ser concentrada nos centros das cidades.
O mesmo ocorreu com cidades das chamadas regiões
metropolitanas, que viam em suas capitais ou cidades-polo o “seu centro”. Era
apenas o primeiro passo para que a população também migrasse.
A oferta de serviços e o relativo conforto fez com que a
população procurasse sair dos bairros e fosse para a área central das cidades.
Os centros começaram a ficar cheios, saturados e a
população continuou crescendo. Aí deu-se o movimento inverso: os bairros
passaram a ser atraentes pois ofereciam mais conforto, mais tranquilidade,
longe da bagunça e do barulho dos centros.
As pessoas passaram a ver os bairros como um refúgio à
loucura e aos altos preços das cidades. O mesmo ocorreu com cidades das regiões
metropolitanas, que prometiam mais conforto e qualidade de vida que as
capitais.
As pessoas voltaram a migrar, desta vez, para longe dos
centros.
Há aproximadamente quinze anos, na virada do século, os
bairros mais afastados começaram, aos poucos, a oferecer serviços que antes só
conseguíamos nos centros: escolas, comércios, postos de saúde. Um aqui, outro
ali, ainda tímidos. Há uns dez anos a coisa foi se intensificando e hoje temos
uma gama quase tão grande quando a da área central.
Estamos no meio desse processo que é contínuo, aumenta a
cada ano e é marcado seja por Secretarias e Sedes de Governo que são
construídas nos limites da Capital, seja por estações de ônibus que tiram o
excesso de veículos do centro das cidades.
O que acontecerá daqui pra frente é uma incógnita: daqui
a cinquenta anos faremos um novo caminho rumo ao centro e depois de volta aos
bairros e assim será num vai e vem infindável, ou será um movimento definitivo
trazendo assim uma “Central da Periferia” como já alardeava Regina Casé anos
atrás em um programa de tv.
Haverá novas áreas de escape quando os bairros se
tornarem novos centros?
Haverá novos centros quando as áreas centrais se tornarem
os novos bairros?
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