Caixa do meu primeiro celular, um NOKIA 5120i |
Uma
rápida análise sobre o real uso do telefone móvel
Há um ano aconteceu um fato que mudou um pouco minha
vida: em 18 de janeiro de 2016, ao iniciar as minhas férias, resolvi me
ausentar das redes sociais. Deixei em off
o Facebook, a caixa de e-mail, o YouTube e até o celular. Confesso que essa
prática vinha se tornando comum nas minhas últimas férias. Era uma forma de “dar
um tempo” a toda essa loucura tecnológica a que temos acesso diariamente.
Dias depois, às vésperas de voltar ao trabalho, recebi
uma proposta para um freelancer no
pré-carnaval belo-horizontino. Embora ainda estivesse com o celular desligado,
resolvi levá-lo para o caso de alguma emergência. A última vez que o vi foi
quando o coloquei no bolso da mochila daquele começo da tarde de sábado, 30 de
janeiro de 2016.
Durante um dos quatro eventos em que cobri aquele dia o
celular foi furtado. Ao voltar para casa, tomei uma decisão: ver quanto tempo
ficaria sem comprar um celular novo. Confesso que já havia pensado em abandonar
o aparelho várias vezes, mas nunca o fazia por comodidade. Depois que ele foi
furtado, decidi não comprar outro e refazer todo o trajeto desde o meu primeiro
telefone para ter certeza de que não precisaria mesmo de um novo.
Ganhei meu primeiro celular aos 12 anos de idade, em
2001. Foi presente de aniversário. Na época, a moda de adolescente ter celular
ainda estava bem no começo e acredito que fui um dos precursores neste hábito
infernal. Os tempos eram outros, porém. Ainda não tínhamos telefone fixo, já
que a Telemar ainda engatinhava no
serviço de telefonia aqui na minha cidade e precisávamos manter contato com os
parentes distantes: a família da minha mãe mora em outra cidade e a do meu pai
em outro estado. O celular acabou sendo uma boa opção para nos “aproximar”. O
modelo era ultramoderno para a época: um Nokia
5120i (moderno em todos os sentidos: mandava e recebia mensagens, tinha o “jogo
da cobrinha, entre outras funções). Foi talvez o único celular do qual eu
realmente tenha gostado e, longe de “amar” bens materiais, mas ainda guardo a
caixa original e o aparelho, que usei até 2008, quando as operadoras passaram a
habilitar apenas aparelhos com chip.
Mesmo assim, nos últimos anos, já tinha vontade de não
ter um celular, de modo que, entre 2007 e 2009 fiquei algumas vezes fora do ar.
Depois, tive alguns aparelhos no decorrer dos anos.
Em meados de 2015 adquiri um aparelho moderno, que me
dava acesso ao Instagram, WhatsApp e
outras maravilhas da atualidade e... bem, foi aí que minha birra com celular
cresceu de vez! A cada minuto, um novo “bip” anunciava uma nova “mensagem superimportante”
no grupo da família, ou me avisava que “alguém curtiu aquela sua foto
totalmente sem graça” no aplicativo ou outras trezentas porcarias como essas.
Enfim, cansei.
Um dos “clímax” da minha chateação foi quando, a caminho
da faculdade e trocando mensagens realmente importantes com o pessoal do
serviço, uma onda de mensagens sem importância invadiu meu whatsapp e me fez
gastar meus créditos à toa. Depois de colocar uma nova recarga, saí do “grupo
da família” (um caso que causa falatório até hoje). Meses depois, resolvi
desistir de vez do Whatsapp e do Instagram.
É claro que sempre me diziam: “mas você vai precisar se
comunicar”... “como alguém vai fazer para falar com você?”, entre outros
argumentos que duraram até o fatídico dia em que o celular foi furtado. E foi
esse furto que me fez repensar: até que ponto, realmente, precisamos de um celular? Não estou julgando as pessoas
que usam o aparelho para trabalho – nesse ponto ele é importante mesmo.
Mas, e a partir do ponto em que ele
passa a atrapalhar nossa vida pessoal e até mesmo profissional?
Dois meses depois de ter ganhado meu primeiro aparelho, passei
mal e fui internado com suspeita de apendicite. Naquela ocasião, o aparelho foi
importante para passar aos parentes notícias sobre meu estado de saúde. Cerca
de um mês depois de ter saído do hospital, nosso telefone fixo foi instalado e
o celular entrou numa era de ostracismo que da qual só sairia em 2007 quando eu
comecei no meu primeiro emprego e na faculdade – e exatamente quando comecei a
ficar de saco cheio desses aparelhos.
A partir daí, toda vez que eu tentava ficar sem o
celular, aparecia alguém para me dizer: “mas você vai precisar, alguém vai precisar
entrar em contato com você”. E foi então que comecei a perceber que não era bem
assim. Em 2007, um amigo meu sofreu um acidente no centro de Belo Horizonte e
eu estava na região. Recebi a notícia horas depois, quando cheguei em casa,
porque era “forte demais” para ser dada por telefone. Em 2015, um colega de
trabalho se acidentou e eu recebi a notícia horas depois porque “não era preciso
tê-la dado por telefone”. Parentes, amigos e conhecidos foram internados,
ganharam bebês, faleceram e eu só recebi a notícia pessoalmente ou por telefone
fixo porque “não era bem a notícia para se dar por um celular”. Bem, então, “qual
era a notícia para se dar por celular”?
“Mas celular é importante para alguém entrar em contato” –
diziam todos – mas, quando precisavam entrar em contato, não me contatavam pelo
aparelho ou porque a notícia era “importante demais” ou “sem grande importância”...
Passei então a diminuir o uso do telefone móvel
gradativamente: assim, aos poucos, eu me desapegava e as pessoas não
estranhariam o fato quando eu o largasse de vez. Com isso, fins de semana e
feriados significavam “dias sem celular”. Trechos de férias também entravam
nessa onda “desconectada”. Estava em um desses períodos, quando fui furtado em
30 de janeiro de 2016 – a apenas 1 dia de voltar a ligar o aparelho. Foi quando
tomei a decisão: quanto tempo consigo ficar sem um celular novo?
Pois bem, depois de ser chamado de louco e até de
irresponsável por algumas pessoas (sim! “Você não vai conseguir trabalhar ou
namorar ou ter contato com ninguém sem um celular” – disseram isso mesmo),
completo um ano sem o telefone móvel. Nesse tempo, pessoas morreram, nasceram
casaram, se acidentaram e... “Oh! Meu Deus! Como recebi tais notícias?” Pelo
telefone fixo, e-mail ou pessoalmente, já que todas eram “importantes demais”
para serem dadas por um celular!
Continuo conectado com o mundo, continuo convivendo com
as pessoas e me relacionando – profissional e pessoalmente. Não digo que nunca
mais terei um celular. Pode ser que daqui a um dia compre outro e reinstale
tudo: do Whatsapp ao Pókemon Go. Pode ser que fique mais uma semana, um mês, um
ano ou uma década sem. Não sei ao certo. Quem poderia dizer? O que posso dizer
é que, após um ano sem celular, vou muito bem, obrigado!
E continuo refletindo: até que ponto realmente precisamos de certas coisas e a partir de ponto nos
tornamos dependentes delas?
Até a próxima.
APS
02/02/2017
Nenhum comentário:
Postar um comentário