sexta-feira, 15 de junho de 2018

Meu Encontro com Felipe M. Guerra



Ou: uma louca odisseia cinematográfica que começou nos computadores da faculdade em 2007 e teve seu ápice no Cine Humberto Mauro em 2018



Uma das maiores curiosidades da minha vida de cinéfilo não tem relação com o fato de eu ter visto Brinquedo Assassino pela primeira vez aos 4 anos de idade (Tela Quente, Globo, 1993) ou ter passado cerca de 30 horas ‘maratonando’ filmes de terror no Cine Humberto Mauro em 2016, embora tenha tudo a ver com o gênero terror.
A história que narrarei a seguir começou em 2007 e, devido ao apelo pessoal que possui, lançarei mão de um relato mais intimista, quase como um diário mesmo, deixando de lado, assim, a linha narrativa em 3ª pessoa tão associada a jornalistas...
Conforme falado no primeiro parágrafo, sempre gostei de cinema, tendo uma predileção pelo terror (Brinquedo Assassino não foi minha primeira incursão no gênero). Em 2007, com 18 anos recém-completados, consegui meu primeiro emprego: operador de telemarketing. Enquanto fazia o treinamento (que naquela época durava um mês inteiro e em horário integral: das 7h30 às 17h), fazia um curso pré-vestibular à noite para tentar entrar na Universidade Federal de Minas Gerais no fim do ano (eu havia sido reprovado na prova feita em dezembro de 2006).
Na penúltima semana de treinamento para o trabalho, em abril de 2007, um panfleto entregue na porta do curso me levou a tentar o vestibular da Faculdade Pitágoras. O panfleto me foi entregue em uma quinta-feira, as inscrições se encerravam na sexta e a prova seria no sábado! Sem treino, sem preparo específico, com exceção das aulas do curso pré-vestibular, fui com a “cara e a coragem” fazer o vestibular (aliás, a pequena odisseia pela qual passei para me inscrever na prova vale ser contada aqui qualquer hora desses, podem me cobrar).
Na segunda-feira, 30 de abril de 2007, recebi o telefonema da faculdade informando que havia sido aprovado e que as aulas começariam já na próxima segunda-feira, 07 de maio. Na mesma semana, o treinamento na empresa acabou e nós começaríamos a trabalhar na terça-feira, 08 de maio.
A Faculdade de Letras e o primeiro emprego foram, para mim, um marco. Uma nova etapa da minha vida começava ali, com uma rotina puxada, mas irresistível: Acordava às 5h, fazia o café da manhã, me arrumava e pegava o ônibus entre 6h15 e 6h30. Chegava ao Centro de Belo Horizonte por volta das 7h15 e rumava para a faculdade na Rua dos Guajajaras. As aulas começavam às 7h30, com vinte minutos de intervalo entre 9h10 e 9h30. O dia letivo terminava às 11h10. Geralmente, saía da faculdade e ia com tranquilidade para o serviço, no bairro Prado. Almoçava, lia alguma coisa e começava a trabalhar. Saía do trabalho às 20h15, voltava ao Centro e pegava o ônibus por volta das 20h40, chegando em casa às 21h30...
Tal rotina se repetiu, com pouquíssimas alterações, por cerca de 45 dias. Então, meu horário no serviço foi mudado: eu começaria a trabalhar às 16h30 e sairia às 22h40. Eu precisava arrumar algo para ser feito nesta “janela” de mais de cinco horas. Não dava pra voltar pra casa, pois o dinheiro da passagem tinha que durar o mês todo. Não dava pra ficar perambulando pelas ruas da cidade e, mesmo meu programa favorito de olhar – e comprar – filmes nas Lojas Americanas era uma atividade que não dava para se fazer todos os dias.
Descobri, então, que nos laboratórios de informática da faculdade, podíamos acessar quase todo tipo de site. E comecei, então, a pesquisar coisas aleatórias para passar o tempo. Muitas vezes, terminava um trabalho de uma das disciplinas e ainda tinha quatro horas de folga antes de ter que ir para o serviço. Procurava, então, sobre assuntos diversos: de resumos de novelas a eliminatórias da Copa do Mundo...
  Meu lado cinéfilo passou a falar mais alto e comecei a pesquisar sobre filmes. As primeiras pesquisas eram sobre resumos de filmes famosos ou títulos disponíveis para venda no site das Lojas Americanas. Lembro de ter “namorado” um box com todos os filmes de A Profecia e outro de Robocop por mais de um ano!
Procurando por filmes, deparei-me com um extenso artigo sobre O Massacre da Serra Elétrica que continha não o resumo, mas detalhes sobre a produção. Comecei a lê-lo sem grande interesse, mas acabei ficando preso com as preciosas informações. Foi aí que descobri a ligação entre O Massacre, Psicose, O Silêncio dos Inocentes e, claro, Ed Gein. Na internet, um link leva a outro e, sem perceber, havia encontrado dois sites que passaram a me acompanhar naquelas longas tardes entre faculdade e trabalho: Boca do Inferno e Myers.Net. Neste último, dois nomes me chamaram atenção: Alexandre Sobrinho, criador do site, e Felipe M. Guerra, que havia escrito dois dossiês sobre Jason e Freddy, das séries Sexta-Feira 13 e A Hora do Pesadelo. Em 2007, eu ainda não havia visto todos os filmes desses dois personagens e os resumos somados à crítica bem-humorada de Guerra me deixaram fascinado!
Todos os dias, após a aula, corria para o laboratório para ler mais um texto sobre os personagens do universo de terror. O site era muito bom e eu adorava percorrer os vários links com as curiosidades e informações sobre as produções.
Comecei, então, a salvar alguns artigos em um arquivo do Word para uma futura impressão. O arquivo fora salvo em minha pasta pessoal no servidor da faculdade e em um pendrive. Algum tempo depois, o sistema da faculdade teve que ser reinicializado e os arquivos da pasta sumiram. A cópia do pendrive foi impressa e encadernada, contendo os “dossiês” do Jason e do Freddy. Também fiz uma cópia de um texto intitulado “Dicas para sobreviver a filmes de terror”, que acabou se perdendo com o tempo e os textos sobre O Massacre da Serra Elétrica e Halloween não chegaram a ser impressos.
Meses depois perdi o pendrive e fiquei muito tempo sem acessar de novo o site dedicado a Michael Myers. Quando tentei reencontrá-lo, vi que já estava fora do ar. A cópia impressa dos textos sobre Sexta-Feira 13 e A Hora do Pesadelo passou a ser única e guardei-a com carinho.
Os anos se passaram, eu me formei, comecei a dar aula e me esqueci daqueles textos que me fizeram companhia no começo da faculdade. Vez ou outra, vinha uma lembrança e eu corria para a internet para ver se achava o site original ou algum outro lugar em que os textos poderiam ter sido salvos. Nada! Também não conseguia me lembrar ao certo do nome do autor: minha cabeça, já com os ares da faculdade de Jornalismo, minha segunda graduação, cismou de misturar os nomes do autor dos artigos com o criador do extinto site: Por vezes, vinha à mente “Felipe Sobrinho” ou “Alexandre Guerra”. As pesquisas no Google, então, eram infrutíferas.
Em 2017, durante uma procura aleatória em uma antiga caixa de papéis, deparei-me com o que parecia uma apostila. Peguei-a e, para meu espanto, era a antiga encadernação, feita dez anos antes e contendo os tais “dossiês” do Freddy e do Jason. Os nomes, aliás, nunca foram oficializados como “dossiês” e eu atribuo, a isso, como mais uma brincadeira do meu cérebro de cinéfilo. O longo artigo sobre Freddy se chama Dissecando Freddy Krueger e o do Jason é Jason Já Foi Para o Inferno (ou “como a cobiça enterrou uma série de sucesso”). Uma olhada no canto superior da página me revelou o nome certo do escritor: Felipe M. Guerra. Ah, sim! Valeu, cérebro!!!
Era uma terça-feira, 07 de fevereiro, e eu reli todo o material e resolvi procurar mais informações sobre o escritor. Joguei o nome do Facebook e uma lista apareceu. Cliquei em alguns e o “Felipe correto” surgiu na tela. Meus amigos! Não repitam isso em casa ou as pessoas vão achar que vocês são psicopatas! Mas, na ocasião, mandei uma mensagem para o Guerra. Passava das dez da noite e eu escrevi assim: “Boa noite, Felipe. Tudo bem? Meu nome é Antônio Pedro de Souza e também faço Jornalismo, além de ser formado em Letras. Gostaria de tirar uma dúvida: foi você quem escreveu os artigos "Dissecando Freddy Krueger" e "Jason Já Foi Para o Inferno (ou Como a Cobiça Enterrou Uma Série de Sucesso)" publicados no site "Halloween: o site brasileiro de Michael Myers"? Aguardo retorno e agradeço desde já. Abraços.
Das duas uma: ou ele acharia mesmo que eu era um psicopata e me bloquearia nas redes sociais ou responderia à pergunta. Ele usou a segunda opção, dizendo que fazia muito tempo que havia escrito tais textos. Respondi de volta (eu sou chato mesmo hein?) resumindo todo esse texto que vocês estão lendo em umas dez linhas (sei, agora vocês devem estar pensando: ‘porque não resumiu pra gente também, pra economizarmos tempo?’) e disse que tinha os textos impressos. Felipe foi, mais uma vez, educado, dizendo que os textos, hoje, poderiam estar desatualizados, mas que cumpriram seu papel no começo do século, além de ficar feliz por eu tê-los guardado todo esse tempo. Agradeci a atenção e encerrei a conversa (lembrem-se: era terça-feira, passava das dez da noite e eu dava todos os indícios de ser um psicopata!).
No ano que se passou, conversei várias vezes com o Felipe pelo Facebook. Sempre sobre filmes. Na manhã da segunda-feira, 04 de junho, estava me preparando para uma cabine cinematográfica quando, espiando no Facebook, vi uma postagem dele dizendo que estaria à noite em BH para comentar a sessão de A Próxima Vítima, filme policial de 1983.
Pensei em toda a história narrada neste texto e vi que poderia, finalmente, conhecer o cineasta e jornalista que admirava há mais de uma década. Entrei em contato com a assessoria do Palácio das Artes e gerência de cinema do Cine Humberto Mauro, consegui a credencial para cobrir o evento e rumei para o Centro de BH para a sessão.
Vi Felipe parado próximo à entrada do cinema e me aproximei com cautela. Ele foi super receptivo e o resultado foi uma entrevista muito legal que vocês podem acessar clicando nos links abaixo. Também fizemos algumas fotos juntos e... Bem, sabem os textos que deram origem a tudo isso? Agora estão autografados pelo Felipe e guardados com mais cuidado ainda na minha estante...





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