quinta-feira, 16 de março de 2017

Precisamos Mesmo de um Novo King Kong?


Página do filme no Facebook permite inserir sua foto em cena do filme


Velocidade e quantidade de refilmagens têm aumentado nos últimos anos: “Homem-Aranha” teve destino semelhante

Na última quinta-feira (09/03) estreou nos cinemas o filme Kong: A Ilha da Caveira, uma superprodução que reconta – pela quarta vez, a história do famoso gorila que invadiu os cinemas há 84 anos. Ainda não vi o filme, então não irei avaliá-lo ou criticar as cenas ou enredo aqui. O objetivo deste texto é apenas questionar o seguinte fato: precisávamos, realmente, de um novo filme do Kong?
O primeiro King Kong foi lançado em 1933, em preto e branco e é, ao lado de filmes como “E O Vento Levou” (1939) e “Branca de Neve e os Sete Anões” (1937), um dos grandes êxitos do cinema.
A história, contemporânea para a época, mostra um diretor de cinema em busca de locações para seu novo filme, quando se depara com a Ilha da Caveira, lar do gorila. A história, muitos sabem: a jovem atriz, dada como sacrifício ao Kong, conquista o coração da fera. Ao ser transportado para a cidade, Kong parte em busca da amada e o resultado é uma das mais belas e tristes cenas da sétima arte: o gorila é abatido no alto do Empire State, no centro de Nova York. A última frase do filme é “Não foram os aviões que o mataram. Foi a Bela que matou a Fera”.

Cena do filme "King Kong" - 1933
Reprodução

O filme recebeu uma continuação, intitulada “O Filho de King Kong”, também de 1933. Anos depois, o gorila ganhou uma versão japonesa e uma versão animada para a TV. Nenhuma delas, porém, é uma refilmagem da obra original. Isso só aconteceria em 1976, com um filme que se tornou um clássico do Cinema em Casa (SBT) e da Sessão da Tarde (Globo). O King Kong dos anos 70 alterou alguns detalhes do original, mantendo-se atento a sua época: em vez de um navio com uma equipe de filmagens, há um navio petroleiro, que busca novas fontes de extração. Em vez do Empire State, Kong escala o World Trade Center. Do mais, o enredo segue semelhante ao original.

A versão de 1976 foi exibida diversas vezes no
Cinema em Casa (SBT) e na Sessão da Tarde (Globo)

Esse filme também ganhou uma sequência, dez anos depois: em King Kong 2 (1986), é revelado que Kong não morreu de sua queda no World Trade Center. Ele fora resgatado e permanecera em coma por 10 anos. Ao passar por uma delicada cirurgia, Kong precisa de uma doação de sangue e a médica que cuidou dele, interpretada pela eterna Sarah Connor, Linda Hamilton, parte para a selva à procura de um gorila compatível.
Vale ressaltar que se passaram 43 anos entre a primeira versão (1933) e a segunda versão (1976) do filme.

Peter Jakson tentou ser o mais fiel possível ao original mantendo, inclusive, alguns erros.

Vinte e nove anos depois, Peter Jackson dirige a terceira versão e a mais próxima da original: em King Kong (2005), a trama é ambientada em 1933 (ano do filme original) e Nova York sofre os efeitos da crise iniciada em 1929. Uma equipe de filmagens parte para uma ilha e encontra Kong. O restante é semelhante ao original, incluindo alguns “erros” como a quantidade de dedos nas patas dos dinossauros da ilha...

Apenas onze anos separam a versão de Peter Jackson desta nova

Apenas 11 anos se passaram desde a versão de Peter Jackson e a novíssima “Kong: A Ilha da Caveira” (2016 – lançada no Brasil em 09/03/2017). Onze anos para a história ser totalmente recontada. De acordo com os produtores e sites especializados em cinema, a história não é, de fato, uma refilmagem. Ela abordará o “passado” de Kong, tanto que ele ainda não é considerado o “rei” da ilha. A trama se passa na década de 1970 e, ao contrário dos outros filmes, 95% do tempo será na ilha, não na cidade.
A grande questão, porém, que levantei no título, retorna aqui: precisávamos mesmo recontar essa história? Como cinéfilo, sou fã dos filmes do King Kong, mas não poderíamos aguardar mais alguns anos antes de reinventar sua saga? Será mesmo que não existem novos e bons roteiros, de preferência inéditos, para serem filmados?

Em quinze anos, Peter Parker teve sua origem contada três vezes:
Homem-Aranha (2002), O Espetacular Homem-Aranha (2012) e Homem-Aranha: De Volta Pro Lar (2017)

O caso de King Kong se espelha em diversos outros, como o do famoso herói Homem-Aranha. Entre o filme de Sam Raimi (2002) e o “Espetacular Homem-Aranha” (2012), que reiniciou a saga do herói, se passaram apenas dez anos. Isso mesmo: dez anos para se fazer uma refilmagem! Sem contar que entre o “Homem-Aranha” e o “Espetacular Homem-Aranha” tivemos duas sequências do primeiro, em 2004 e 2007. Ou seja, entre o último filme da trilogia de Sam Raimi e o primeiro filme da nova série se passaram apenas cinco anos. Para piorar (ou acelerar mais as coisas) a nova série já foi abandonada pela estúdio e um novo filme, de uma suposta nova série já foi anunciado: este ano estreia “Homem-Aranha: De Volta Para o Lar”. Ou seja, uma nova versão da história do herói apenas cinco anos após a, até então, “nova versão” ter sido feita. Em menos de vinte anos, tivemos três origens, com três histórias diferentes para o herói.
Se nas décadas de 1980 e 1990 o que reinava eram as sequências e, se algumas delas prejudicaram a qualidade de suas respectivas franquias, o que vemos, a partir dos anos 2000, é um excesso de refilmagens que, assim como as citadas sequências, têm prejudicado consideravelmente a qualidade e a variedade dos roteiros cinematográficos.

O que nos fica é a impressão de que os cineastas resolveram todos dar “a sua própria versão” de uma história já contada. Ou seja, “não gostei do filme de 2005. Vou fazê-lo melhor em 2010”. E um segundo: “Não gostei do que você fez em 2010. Vou fazer diferente em 2015”. E, assim, perdemos em originalidade, enquanto “ganhamos” em quantidade. Mas... precisamos mesmo?

2 comentários:

  1. Fico me perguntando por que???? Eu assisti o filme e não gostei. E se prepare porque ano que vem vem King Kong contra Godzilla.

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    1. Pois é, Sônia.
      Essa quantidade de "recomeços" das séries tem avacalhado bastante com a qualidade de alguns filmes realmente bons. Como disse no texto, além da quantidade, temos a velocidade que essas refilmagens são feitas. Não dá nem pra se acostumar com o filme e eles já anunciam a refilmagem da história. E sobre o "King Kong X Godzilla": acho que deveriam deixar o gorilão e o dinossauro quietos por um tempo. Nada a ver colocar os dois para brigarem num filme. Pelo menos por enquanto.
      Um abraço!

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